sábado, 16 de abril de 2011

A bolsa rompeu? Então sou eu!

Indo pra maternidade. Onde estou? No banheiro, é claro.
Parceiro, chegou a hora. Não adianta se trancar no banheiro alegando indisposição estomacal (vulgo caganeira ou piriri) ou mesmo refugar igual ao Baloubet Du Rouet, aquele cavalo que varejou o Rodrigo Pessoa por cima dos obstáculos, o que era o grande vencedor e na hora "H" afinou. Você é o pai e deve estar presente, não dá pra fazer a segunda chamada. Tenha em mente que sua situação é muito confortável. Com o advento da cesariana e a adoção unânime por esta cirurgia de quase todos os obstretas, tudo tem dia e hora certa pra acontecer. É claro que por traz disso temos um sistema de saúde capitalista que prefere este jeito fordista porque consegue fazer muito mais cirurgias do que se fosse esperar a criança resolver romper a bolsa. Aliás, romper a bolsa, pra gravidez gemelar, é quase uma palavra em extinção. Praticamente todos que consultamos aconselhavam ao parto cesariano, ainda que existam casos do parto gemelar normal. Acabou que lá em casa minha mulher ficava com uma inveja danada de mim toda vez que saía correndo em direção ao sanitário dizendo "a bolsa estourou!". Perco a mulher mas não perco a piada.

Em nosso caso não tivemos muita escolha já que nosso plano não nos dava muitas opções. Como as crianças não foram "planejadas", ela tinha apenas o plano mendigo da Unimed, também chamado de Personal. E já que não tínhamos muita escolha, não queria correr o risco de esperar eles decidirem a hora de nascer e, chegando na maternidade, não ter lugar ou passar qualquer tipo de perrengue. Achei perfeito quando decidimos tudo, inclusive com reserva no hospital. Tudo agendado, restava somente aguardar.

É claro que em condições diferentes gostaria que o parto pudesse ser natural e que eles viessem na hora que decidissem entre eles (acho melhor explicar antes que alguma Avatar voe no meu pescoço e me chame de inimigo da natureza). Minha mulher também gostaria de um parto bem natural e, conhecendo ela, seria algo como ela agachada, gritando horrores abraçada a uma árvore e fazendo pressão para que as crianças chegassem, onde cairiam em uma pequena piscina natural preenchida de água da fonte, para não estranharem a mudança de ambiente. Logo após, ela, eivada do instinto materno, lamberia suas crias enquantos elas curtem o colostro quentinho rodeadas por índios xamãs que entoam cânticos de boas-vindas, batendo o pé e baforando aos espíritos. Em seguida eu chegaria, pegaria os dois e levantaria aos céus, apresentando os novos moradores do Templo planeta Terra aos deuses que regem sua harmonia.

Cosa Nostra: os Mandarino Cappelli
Acordando do sonho, era hora de partir, dia 24/01/2010 7h da manhã. A parentada toda avisada e chegando junto conosco na maternidade, por sinal muito boa, uma grande sorte que demos, Amparo Feminino. Ela vai se preparar e você também. Logo perguntam se o pai vai asistir e respondi que iria, não só eu como também o irmão da Giulli, Huguinho, que é enfermeiro e ponto de equilíbrio do Clã Mandarino e conseguiu negociar sua entrada. Fomos então para um pré-sala onde nos vestimos adequadamente, ou pelo menos quase, no meu caso. Com uma lancha tamanho 44 e 1,95 de altura, saí do trocador com a calça que me deram na canela, o negócio que envolve o pé chegando só na metade e a camisa no umbigo. Logo vem aquele engraçadinho que te pergunta "não vai desmaiar não"? Como eu vou saber? Eu sei lá, ué, nunca entrei em um lugar onde fossem abrir uma pessoa pela barriga, com sangue brotando aos montes e com duas crianças saindo arrancadas de lá de dentro rsrsrsrsr  Só dá pra saber indo. E fui.

Chegando na sala de cirurgia a descontração é total. Não, não é a nossa, mas a da equipe. Futebol, culinária, compromissos futuros, parecia que a qualquer momento iam jogar o baralho em cima da barriga dela e começar o carteado. Como fazem aquilo várias vezes e em dia seguidos, o que pra nós é extremamente angustiante pra eles é rotina. Injeção dada. O anestesista vai furando ela com uma agulha pra ver se ela está sentindo alguma coisa. Eu e Huguinho atrás da cortina que só tapa a visão dela pra barriga, o que nos permite olhar por cima (bem, o huguinho na ponta dos pés, mas não vem ao caso). Enquanto ela pergunta se já começou, a barriga já está aberta e o sangue toma conta, sugado com sonda e gases aos montes.

Essa merecia um prêmio. Tentem adivinhar quem é...
Em pouco tempo, a obstetra já está com metade do braço dentro da barriga dela tirando o Thomaz. Logo em seguida sai Sophia, e eu de cara neles, segurando a câmera com uma mão e a mão da Giulli com a outra. A cena é surpreendente. Fotos sensacionais. Em pouco tempo estamos os quatro juntos pra primeira foto. Em seguida seguem para serem limpos e pra fazer a sucção do líquido no nariz. Tudo pra poderem ser embrulhados pra presente.

É nesse meio tempo que temos que ficar atentos e acompanhar as crianças. Vai que tem alguma Nazaré por ali, na espreita, só esperando alguém dar mole pra pegar um deles? Foi assim que a Maria do Carmo se deu mal. Foi nesse meio tempo também que olhei novamente por cima da cortina e vi a obstetra lavando igual uma preta véia na beira do rio alguma coisa em cima da barriga dela. Fiquei bolado" ih, sobrou alguma coisa na hora de montar" rsrsrsrsrsr Resolvi perguntar e ela, com ares de quem está lavando a calcinha no chuveiro, responde: "é o útero, temos que tirar a placenta que fica grudada". Diz aí? Sinistro, né não? Pra você que ainda não sabe se vai entrar, eis um relato que vai te ajudar na decisão. Agora, se você é daqueles que desmaia até com o sangue que sai do bife que tirou da sua unha, pode desistir, passa longe.
Saindo do forno...
Todos pra encubadora, pra se ambientarem uns 30 minutinhos e tirar as medidas, a burocracia. A parentada toda babando no aquário. Logo em seguida vamos pro quarto. Após a cesárea a mulher não pode falar, porque dá dor e gases. Ela já tinha um bloquinho em mãos, ainda que sua letra seja um espécie de dialeto da junção entre o árabe e o mandarim, ainda mais pós-operação. Eu que já imaginava os questionamentos, fazia igual com um amigo gago, tentava adivinhar tudo, pra desespero de ambos. Ela não podia falar. Eis que surge minha mãe no quarto e, toda alegre, começa a se comunicar com ela por sinais. Gargalhada geral. "Tá maluca, mãe? Ela não pode falar, mas não tá surda não"! rsrsrsrsrsr

(Uma história ajuda a compreendê-la melhor. Verão no Rio, calor absurdo, o capeta usando protetor 40. É hora de dormir e todos se recolhem. No dia seguinte, a mama sai esbravejando do quarto, possuída e quebrando tudo, puta da vida: "porra Ricardo, sacanagem! Fiquei suando a noite inteira, não dormi nada, esta merda deste ar-condicionado está quebrado! Tu me sacaneou!" Meu irmão, meio aturdido com aquilo tudo, indagou" Mãe, tu não usou o controle remoto? " E ela: "usei, claro que usei! Botei no máximo e esta merda não funcionava, coloquei no 32º" rsrsrsrsrsrrsrsrsrsrsrsrsrsrrsrsrsrs Ao invés de gelar ela transformou o quarto no forno da CSN!!!! Figuraaaaaaaaaaaaaaaaaça)

Peito de mãe sempre cabe mais um
É sempre bom evitar o quarto cheio, principalmente na hora do primeiro contato, quando você ainda está se adaptando com as crianças. E isso serve pra todo o primeiro mês. No meu caso foi ruim também porque não conseguia ver o jogo do Fluminense contra o Bangu pelo campeonato carioca, toda hora alguém passava na frente. Chegam os dois rolinhos e tu não sabe por onde começar. Logo vem a primeira mamada dupla e o primeiro cocô, que é uma espécie de sabão em pasta, destes de lavar louça, mecônio, nunca mais esqueço isso. O primeiro choro, o primeiro desespero, a primeira noite acordado, a primeira troca de fraldas usando 39 gases pra limpar uma borradinha de nada...

Tudo ao quadrado.



9 comentários:

  1. Hahahahahaha, só muda o endereço mesmo!
    Por aqui foi bem assim também! E o pior é tu tentar evitar as visitas no hospital e em casa depois! Me sentia um bicho no zoológico e as pessoas passando e se divertindo com o dia-a-dia dos "animais"!
    Abraço e adoramos seu blog!
    OBS: Meu marido virou teu fã depois daquela defesa dos bolos lá no meu post!

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  2. Rá!!! adorei seu blog! fera d+ dar conta de 2 né!
    seus babys teem quantos meses? ou ja tem anos...me confundi com as fotos?!
    att,
    Ana

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  3. Parabéns, cara, são lindos!

    Agora começam as noite mal-dormidas, as interpretações dos choros, e outras coisas.

    Vou acompanhando e te desejando sorte aí, em dobro, claro :)

    Abraço!

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  4. Camila, do jeito que as mulheres estão tomando conta de tudo no mundo, só resta aos homens a união! rsrsrs Avisa a ele que tamo junto! rsrsr

    Ana, eles hoje têm 1 ano e 2 meses.

    Rafael, eles hoje tem esta idade, mas optei por colocar no blog a saga desde o início. Estas outras coisas que você falou já aconteceram e ainda serão tema de postagens futuras. Grande abraço.

    Obrigado pelos comentários! Vamos chegando que vou colocando água no feijão!

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  5. Tudo igual mesmo...amei seu blog e to te seguindo. Tb tenho gêmeos, mas são 02 meninos e estão com 01 ano e 04 meses.
    Tb começei nosso blog recentemente, antes do primeiro ano não dava tempo...agora as coisas estão mais relax.
    Filho é td de bom, né?
    Depois passa lá para nos conhecer melhor: meusmeninosgemeos.blogspot.com

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  6. Cappelli, Gostaria de saber se vc autoriza a adaptação deste texto no Vizinhos de Utero. Será um prazer postar lá. Se a resposta for sim, por favor, mande fotos por e-mail: vizinhosdeutero@gmail.com
    Abs! Grata! Jemima.
    vizinhosdeutero.blogspot.com

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  7. Morri de rir com seu post.
    No meu caso eu era a parte que estava com a barriga aberta enquanto a médica enfiava delicadamente o braço pra tirar os dois pequenos então adorei seu ponto de vista.
    Muito bom!

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  8. Ah, verdade! Fui tão direto ao texto que não reparei, por exemplo, nas imagens ao lado, no menu rsrs...

    Abraço!

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