quinta-feira, 30 de agosto de 2012

F 5


De vez em quando gosto de teoriar (caorizar era como falávamos na faculdade) sobre determinadas nuances que percebo neste universo blogueiro, que nada mais é que um reflexo das transformações que assolam nossos relacionamentos e modificam nossa forma de interação. Uma das coisas que mais me chamam a atenção é a necessidade que o ser humano hoje tem de estar sempre diante de uma novidade, de algo impactante, de uma notícia bombástica. A quantidade de informações é tamanha que o cara sempre acha que a história o deixou fora de algo, que ele está sendo discriminado pelos acontecimentos. E o problema é que sempre que ele abre a mão pra pegar algo, alguma coisa escapa. É esta a contradição moderna: são muitas as informações oferecidas e, na mesma proporção, as descartadas. 

E isso atinge todas as esferas da nossa vida. Esperar, hoje, tá quase virando uma palavra em desuso, uma praga, um vírus, o pior de todos da internet. Em tempos de respostas imediatas, de acessos de raiva por e-mails que não foram respondidos depois de 5 minutos de enviados, a necessidade de novidades passou a mover boa parte da humanidade. É a diferença entre o desejo e o impulso. No primeiro você planeja e cria as condições necessárias para alcançar o que quer. No segundo faz merda, porque não aguenta esperar. O impulso é o clic do mouse, é a velocidade de 15.000 mega da internet porque a de 10.000 já tava parecendo lenta. É a necessidade de novidade constante que perturba sua alma, soprando como faz o diabo no ouvido: coooooooooooooooompre Baton, cooooooooooooooooooompre Baton.

E é claro que este modelo chegaria até aqui. São muitas as pessoas que me falam que eu deveria escrever mais no blog, que falta texto atualizado, que eu deveria aparecer com mais frequência. Não nego que fico até lisonjeado com isso, pois de alguma maneira gostam dos textos e querem ler mais vezes coisas do tipo. Mas o problema é que minha vida não é um "cada mergulho um flash". Não tenho novidades para contar dia sim, dia não, quiçá semana sim, semana não. Situações engraçadas, ou ao menos que possam ser vistas pelo lado engraçado, muito menos. Não vejo este espaço aqui como algo fake, como um momento de interpretar algo e criar um conjunto aprazível para que aparecer. Este espaço é fruto da espontaneidade e é isso que torna ele legal. 

Se passar duas semanas brigado com minha mulher não escrevo. Se o fluzão vier numa sequência ruim, idem. Se tiver pilhas de leis para estudar para o próximo concurso que vou tentar, não escrevo. Hoje, por exemplo, estou tomando um tempo da CLT para escrever. Se no dia da prova errar um questão boba rogo uma praga em todas vocês, das brabas, tipo micose na unha do indicador ou sapinho no canto da boca.

Enfim, escrevo quando sinto que o que eu tenho pra falar é maneiro. Na terça fui com as crianças na padaria. Fiquei esperando 20 minutos o pão de queijo sair quentinho, isso sem falar que estava atrasado. Pão na mão, hora de ir pra casa. Sophia insiste em levar a sacolinha, sem problemas, já que eles carregam o pão direto pra casa. No meio do caminho ela dá uma balançada com a sacola e lança os coitados na direção do asfalto. Fico sem ação pois estou com os dois, um em cada mão. 

Pensei em acenar ou fazer algum gesto, mas era impossível. Rezo para nenhum carro passar. O primeiro passa e poupa os coitados, deixando eles entre as rodas. Mas o segundo é impiedoso, parece até que desviou só pra assassinar aquela família mineira indefesa. No meio da Ave Maria escuto aquele barulho de sacola estourando, e junto com ela aqueles coitados quentinhos, macios e tenros, que ganharam o mundo para perdê-lo em seguida. Olhar fixo no chão,vejo aquela massa branca se perder entre os pneus, salivando. Chego em casa 35 minutos depois de sair de mãos vazias e com esta história pra contar. Isso porque a padaria é na esquina. Mamãe pergunta o que aconteceu com o pão de queijo e Sophia manda: “Ele foi atropelado!”

Agora me diz: coisas deste tipo acontecem todo dia??? 

Enfim, se vocês acharem maneiro posso escrever diariamente sobre a dificuldade de tirar a caraca do canto da minha unha encravada enquanto as crianças querem ver a Clarilú e coisas afins, assunto não falta. Mas acredito, piamente, que a graça está na espera, na novidade, no “o que será que vem da próxima vez?” Minha intenção não é ter um diário, até porque mastigo abelha, não tomo mel. Acho que este blog só é responsa porque aparece quando realmente deve aparecer, ou seja, quando tenho a intuição e a vontade de escrever e me divirto com isso.

Abraços ao quadrado!

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Perdeu, Playboy!

Respondendo ao chamado das trombetas do Minha Mãe que Disse (porque meu pai mandou ela dizer) segue um texto que, espero eu, a Flávia tenha coragem de publicar por lá. Sempre acho que posso dar uma derrapada, ser sarcástico demais ou fazer uma piada que seja considerada infame para uma blogosfera materna. Mas fiquem tranquilas (melhor assumir logo que só escrevo pra mulheres) que estou sempre me policiando, pra não ser mela cueca e pra não virar um Rafinha Bastos, meio termo tá tranquilo.

Dia dos pais. A data é requentada mas o acontecimento é revelador. Quem acompanha meus textos há algum tempo já sabe que é neste dia, ou melhor, na semana que antecede este dia, que as vendas de cueca quadruplicam. Não sei porque mas me parece que toda mulher acha que nós só temos cuecas rasgadas, surradas e com o elástico frouxo. Tá bom, algumas sim, as vezes um furinho aqui, outro acolá mas, pelo que me consta, nada que prejudique nossa performance. As mais críticas e insensíveis ainda atacam falando da freada de bicicleta, mas aí é golpe baixo, que nos permite revidar falando da calcinha que ela tem da tataravó. Enfim, na dúvida, passa na Renner e compra logo um pacote daquele com cinco. É importante que seja só um porque, caso contrário, corre o risco de restarem algumas no próximo dia dos pais e você não ter o que comprar. Tá bom, chega desse papo cueca.

Fui acordado pelas crianças e por minha digníssima esposa com presentes, vindos da creche e providenciados pela trupe. O primeiro, das mãos do Thomaz, uma linda, maravilhosa, exuberante caixa de sucrilhos transformada em um porta treco, com meu rosto desenhado na frente. Logo depois, Sophia, com um tecido e suas duas mão nele. Porta retratos feitos pelos dois também faziam parte do pacote, além da tradicional camisa branca com a foto e uns dizeres. Confesso que compreendo o valor simbólico da camisa, o que ela representa, mas sair com ela foi um exercício de esforço e superação. Achava que a qualquer momento cruzaria com o Beiçola ou com o Agostinho na pracinha. Agora, só em casa.

Mas o que me chamou mais a atenção foi o texto que recebi da creche, revelador em muitos aspectos da visão que ainda existe sobre o que é ser pai. Até agora estou em dúvida se foi pra me sacanear ou não. Tô achando que não, nunca atrasei nem um mês, eles não fariam isso comigo. Enfim, comecei a ler e quase chorei... de depressão. Imagino que ao tornar este texto público a taxa de natalidade despencaria no dia seguinte. Vamos por partes porque se for de uma vez só não vai  ter ponte pra todos pularem ao mesmo tempo.

"Ser Pai é, acima de tudo, não esperar recompensas". É claro que este não é o objetivo uno, que norteia a sua vida, mas pra mim todas as vitórias que eles conquistarem serão recompensas de nosso esforço e dedicação. Ou eu tô maluco? Será que vou pro céu?

"Ser Pai é contentar-se em ser reserva, coadjuvante, deixado pra depois" Na boa, nessa parte cheguei a catar um Rupinol e um Rivotril que estão esquecidos lá na gaveta dos remédios, mas ponderei. Lembra da taxa de natalidade zero? Como o cara lê isso e sai animado pra brincar na pracinha???

"Ser Pai é colher  a vitória exatamente quando percebe que o filho já trilha seu caminho". Ué, mas o esquema não era não esperar recompensas???

Sei não, acho que eles estão me preparando pra facada quando as crianças mudarem do maternal pro Jardim I. "Ser Pai é pagar a creche dos dois em dia e rindo, sem esperar recompensas e sem atrasar. A única coisa que se pode esperar é a multa e a mora no dia seguinte ao vencimento"

Termino com uma dica para o próximo texto do dia dos Pais: mintam. Nós sabemos que é mentira, quem escreve sabe que é mentira, mas ao menos nos conforta imaginar que um dia assim será. Não é pra isso que serve o ano-novo?

Abraços ao quadrado!