segunda-feira, 10 de junho de 2013

Você é psicomotricizada?

Minhas amigas, cá estou. De tempos em tempos precisamos nos afastar do que fazemos pra que a obviedade do cotidiano não nos torne meros repetidores de opiniões alheias. Se a Glória Maria teve seu período sabático pra cuidar de suas duas crias, porque não eu? A única diferença é que enquanto ela foi pelo mundo dourando sua pele negra eu fui no máximo ao Peró, em Cabo Frio, disputar um lote de areia com os funkeiros/sertanejos.

Quando acho que estou começando a ficar chato dou uma sumida. Quando vejo que os assuntos são repetitivos e nada de novo - ou engraçado - é acrescentado dou uma desanimada. Junte-se a isso uma guinada na quantidade de trabalho e está feito o quadro de abandono do blog. Mas aí, vejo um comentário  da Kátia dizendo que - deve ser efeito do tarja preta - gostava de ler os devaneios aqui escritos. Tá bom, vamo lá, voltemos então logo com uma polêmica. Não é assim que se fica na vitrine? rsrs

Lendo ontem o Globo, vi na coluna do Ancelmo Góis que um colégio estava oferecendo "atividade lúdica de psicomotricidade com desenvolvimento de habilidades aquáticas". Minhas queridas, não se enganem, estamos falando de um banho de mangueira! Outro dia vi também um importantíssimo estudo sobre o sexo que analisava as "vocalizações copulatórias" dos parceiros. Tradução: gemidos. E por aí vai.Não é de hoje que se pretende dourar a pílula pra que ela passe a ter uma roupagem que a faça valer mais. E o cara que tira xerox vira operador de fotocópia e ao tirar uma meleca você pode dizer que está fazendo uma limpeza aguda de impurezas profundas, principalmente se no ato, quando você for buscar lá no fundo, a gengiva aparecer. Tá, é coisa de homem, já sei, vou parar. 

E o mundo dos pequenos está cheio disso. Desde sempre minha mulher tem uma tara pela palavra psicomotricidade. Ela lê chega arregalar os olhos, fica ofegante, "nossa, meus filhos precisam disso, eu quero, eu quero", dá até medo.  E o mercado que não é bobo nem nada sacou que essa era a palavra da moda, um desejo dos pais em oferecer algo diferenciado aos seus filhos e na onda do processo criar "especialistas" que executem a tarefa de forma adequada. Segundo um deles "A psicomotricidade é a capacidade psíquica de realizar movimentos. Não se trata da realização do movimento propriamente dito, mas a atividade psíquica que transforma a imagem para a ação em estímulos para os procedimentos musculares adequados."

Aí fiquei na dúvida: o que não é psicomotricidade? Algo no desenvolvimento da história da humanidade escapa desta definição? Existe algum ato que não é imaginado antes de ser executado? (Claro que existe, mas acho melhor que eles fiquem bem guardados onde estão, né não? rs). Enfim: qualquer coisa que você faça, execute, chute, cuspa, arremesse é uma atividade de psicomotricidade. Vejam bem, longe de mim querer ser um detrator da causa, mas que me soa muito estranho, soa. Seria algo como criar, agora, o sistema de respiração complexa. Nele, a criança vai desenvolver a capacidade de respirar usando todos os órgão necessários para que esta função seja bem desempenhada e ela tenha uma vida plena. É importante? É. Se você não soubesse disso sua vida teria mudado ou a criança teria parado de respirar?

Se seu filho pula, canta, dança, te deixa maluca, cai, corre, bebe shampoo, desenha na parede (aqui cuidado: ele precisa desenvolver sua psicomotricidade pra superar esta fase de pinturas rupestres do Neanderthal. Muitos homens tentam até hoje, melhor resolver no berço.) ele é psicomotrizado.  Sempre botei pilha em minha mulher falando que a melhor aula de psicomotricidade é espalhar o lego pelo chão, insuperável. 

A minha implicância é com o "surgimento" de uma nova especialidade que, na verdade, nasceu junto com o primeiro homem ou mulher. Mas em um mundo em que tudo precisa ser reinventado pra poder ser vendido novamente, nada me assusta. Principalmente de coisas que não precisamos. E é disso que precisamos nos libertar.