Pra você que tá chegando agora, antes de ler este texto é necessário dar uma olhada no post anterior. Isso aqui pode parecer novela mexicana mas, ainda assim, não basta ver um capítulo pra entender tudo o que aconteceu no mês. Aos que leram - e com certeza não conseguiram fazer mais nada das suas vidas aguardando a continuação rsrsr - o que se segue é uma contextualização dos acontecimentos na intenção de que a situação final possa ser digna de, ao menos, uma risada de canto de boca. Vou me esforçar pra isso. O peito rachado, como vocês vão ver, era só a ponta do iceberg. Peraí: peito? Ponta? Iceberg? Rachou? Maldito aquecimento global!
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O Elixir dos deuses |
Como já contei, as crianças tiveram a pega errada, que rachou o peito, que irritava as crianças porque ficavam com fome, que choravam, que deixavam a mãe desesperada, porque as crianças não mamavam, porque seu peito doía horrores, que desesperava o pai e que atormentava os avós. Mais tranquilo impossível. Numa situação dessas, você fica sujeito a qualquer tentativa, já que nada pode ficar pior. Acho que se naquele momento me mandassem passar a Maravilha Curativa do Dr. Humphreys (pra quem não conhece é um líquido que, resumindo, cura todas as doenças da letra de "O pulso ainda pulsa" dos Titãs, além também de curar mau-olhado, espinhela caída, frieira, bicho do pé, fimose e mau hálito entre todas as outras doenças existentes. Na verdade a medicina não faz muito sentido depois de sua invenção, não sei porque ainda existem médicos se formando...) no peito dela eu tava pronto pra executar esta tarefa. Com um espectro de atuação desses, um peito rachado seria pinto. Ops, acho que não ficou legal rsrsrs um peito rachado seria...mole. Ih, piorou... seria...simples, pronto.
Ainda que o peito estivesse no estaleiro, minha mulher se recusava a não oferecê-lo, numa dessas atitudes que só uma mãe tem a capacidade de ter. Imagina a culpa que ela carregaria em não oferecer o leite materno aos rebentos. Ainda assim, com dor e com pouco leite, as crianças não vinham se alimentando muito bem, o que fez com que não ganhassem peso no primeiro mês. E foi só aí que ela se convenceu de que era necessário que eles começassem a tomar o leite em pó de complemento (Similac no nosso caso). E aqui começa uma nova batalha: de um lado eu e meu sogro e do outro, ela e as, como eu gosto de chamar, defensoras da natureza.
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Cadê minha mamadêla??? |
Aqui, meu amigo, eu comecei a me encrespar, encrespar nada, a ficar puto mesmo. Minha mulher começou a ler na internet e pegar informações com outras amigas e estava relutante em dar o complemento. Tudo que ela lia e escutava podia ser resumido desta forma: Belzebú foi alimentado com Nan e Satanás largou o peito porque começou com a mamadeira. As defensoras da natureza, ignorando nossa situação desesperadora e o peso das crianças, continuavam a bombardeá-la com a ideia de que qualquer leite que não o materno era prejudicial e que existiam indícios de que o Dath Vader foi pro lado negro da força por culpa de sua mãe, que não deu o peito. Meus amigos e amigas, é ÓBVIO que todos nós queríamos que eles mamassem somente no peito durante no mínimo os seis meses. Mas o que não podia ser ignorado era que o complemento não era uma opção, mas sim uma necessidade, que era descartada pelas conselheiras verdes. Isso me irritava profundamente já que este radicalismo estava prejudicando meus filhos.
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Você é linda, seus filhos serão lindos e sua barriga vai voltar ao normal... |
Algumas delas respondem pelo nome de doulas. É aquela mulher zen toda a vida, que curte florais, adora terapias alternativas, só toma homeopatia e tem o dom de dizer tudo o que uma mulher grávida com os hormônios enlouquecidos está louca pra escutar. Parceiro, vai por mim, se ouvir esse nome saindo da boca da sua mulher, corre sem olhar pra trás rsrsrs. Foi uma dessas, famosa por sinal, que disse pra minha esposa que ela não deveria dar complemento pras crianças de jeito nenhum, por nada nesse mundo. Só me resta então concluir que ela queria que as crianças perdessem cada vez mais peso e ficassem em uma situação ruim só porque ela achava que era contra as leis naturais, me poupe. O mais engraçado é que um dia desse fomos passear com as crianças no Museu da República e encontramos um amigão meu alemão, que conheci nos tempos em que moramos numa república em Niterói. Conversa vai, conversa vem e toquei no nome dela com ele, seus olhos se arregalaram: "você também conhecer esta mulher? Nossa, ela ser muita atraso" rsrsrs. Vejam bem, nada tenho contra as doulas, não estou generalizando mas, no meu caso, como se tratava de uma das mais famosas, fiquei horrorizado com sua incapacidade de entender o contexto e ser maleável nas suas convicções. Afinal, se seguíssimos suas orientações abalizadas, este blog poderia nem existir...
Nesse ínterim, diante do sofrimento geral, você vai acabar cedendo aos pedidos de sua mulher, no leito e lascada. Foi aí que concordei em chamar uma pessoa que iria lá em casa ajudar com o aleitamento, dar dicas e tudo mais, isso antes do Fernandes Figueira. Já viu, né, morri em R$ 100,00 nessa visita. Ela chegou, pegou as crianças, indicou a pega, disse umas palavras tranquilizadoras e deu uma dica que acabaria com qualquer possibilidade de um simples cochilo durante as noites seguintes. Como a mamadeira era coisa do tinhoso e faria as crianças abandonarem o peito, dorme com um barulho desses, elas deviam se alimentar através de uma sonda, nº6, nunca mais me esqueço. Olha que coisa formidável.
Era assim: você pegava um potinho pequeno e colocava o leite. Depois pegava essa sonda e com o auxílio de um pedaço pequeno de esparadrapo, colava no seu dedinho mindinho, que ia fazer o papel de bico do peito. Botava na boca da criança e ela mamava, sem o risco de jogar o peito pra escanteio. Você tá aí pensando: "ué, Cappelli, qual o problema disso?" Presta atenção, vocês não estão atentando para a funcionalidade disso. Primeiro que se uma mão sua está ocupada porque a criança está mamando no seu dedinho e a outra está ocupada segurando o potinho que está com o leite, quem está segurando a criança??? Ou seja, precisa de mais um. E aquela sonda dando mole, eles metem a mão, arrancam do seu dedinho, o pote vira, a sonda sai do pote, sai do dedo... mermão, cada vez era um suplício. Isso sem contar com a madrugada. Você com a vista tomada pela remela, doente de sono, tendo que acordar, pegar a sonda, colar no dedinho... era mais fácil eu chorar do que as crianças. O que me deixava mais louco é que uma simples mamadeira resolveria tudo...
E esse leite do potinho era alternado, ora materno ora complemento. Calma, acabo de perceber que estamos chegando na parte em que vocês vão conhecer a história do Fernandes Figueira. Tendo em vista que o leite materno era escasso no peito (eu e meu sogro maldosamente ficávamos falando que o peito era só uma salada, que o complemento que era o feijão com arroz rsrsrs) ficava comigo a incumbência de fazer a ordenha para oferecer na sonda. Amigo, eu apertava e apertava e apertava e fazia os movimentos circulares e apertava e quando já estava com os dedos dormentes, com sorte, tinha saído uns 30 ml rsrsrs. Aí tu imagina como nos sentíamos quando o potinho com este leite virava na hora de mamar rsrsrs. Cada esguicho que caía fora do pote era seguido de um "aaaaaaahhhhhhh que pena". Não sei o motivo mas quando eu apertava tinha vezes que saía leite em umas três direções diferentes, sendo impossível aproveitar tudo. Eu passava horas pra conseguir esta quantidade e cada ml era uma conquista.
Minha mulher ficava muito triste com isso, ela queria jorrar leite. Depois de algumas idas ao pediatra e das crianças não terem ganhado peso ela se rendeu. Depois, com o passar do tempo, aceitou a mamadeira também, fase em que eles ganharam peso rapidamente e, PASMEM!, continuam no peito até hoje. Eu estava livre da sonda, as crianças choravam menos porque estavam com menos fome e toda a logística tinha sido facilitada. As coisas começavam a entrar nos eixos. Bem, tô me perdendo, vamos ao caso.
Como vocês viram, o trabalho da ordenha era brabo. Horas e horas por míseros mililitros. Quando chegamos no Fernandes Figueira, ficamos na sala de espera já que tinha uma pessoa sendo atendida. Estamos escutando as orientações e ganhamos até potinhos que são adequados para armazenar o leite, são aqueles vidros compridos de nescafé, tipo aquilo. Enquanto olhávamos aquele pote sonhando em um dia transbordá-lo, com minha mulher se culpando por não ter muito leite, triste e frágil, sai uma menina de uns 50kg de dentro da salinha, que tinha entrado uns cinco minutos antes, com quatro potes daqueles cheios debaixo do braço rsrsrsrsrsrsr. Aquilo foi fatal e minha mulher foi aos prantos imediatamente, enquanto eu e meu sogro ríamos e a abraçávamos sem parar diante da cara dela de "noooooooooossa quanto leite buááááá rsrsrsrsr" Lá funciona também o banco de leite e a menina estava fazendo sua doação bem na hora rsrsrs.
Apesar disso saímos de lá bem felizes e confiantes de que tudo daria certo. Ao quadrado, é claro.