Eu não sei vocês, mas sempre achei muito estranho este negócio de amigo oculto. Particularmente, gosto de escolher pra quem eu vou dar um presente, ainda que seja muito raro rsrs. Mas como não participar é um atestado de mesquinharia ou de coisa pior, normalmente não temos como fugir. Você tira aquele maluco que você não vai muito cara e na hora precisa falar algo de bom e abraçá-lo, espontâneamente! Você dá uma garrafa de vinho show de bola e ganha o DVD pirata do Calcinha Preta (ao vivo).
Minha família faz um todo natal, com regras mirabolantes que minha prima precisa explicar todo ano, tendo em vista o adiantar da idade de alguns e a sequela dos mais novos, com especial atenção para este que vos fala. Esta atualização também é necessária porque as regras amigocultescas podem sofrer mudanças no decorrer do ano, tendo em vista a reunião de diretoria oculta que acontece em lugar não divulgado.
Antes de começar ela explica. O amigo oculto é sorteado na hora, então os presentes devem ser unissex. Os presentes ficam todos em cima da mesa. Quando eu tiro fulano, ele vai lá e escolhe, de acordo com sua intuição, o que ele acha maneiro. É claro que alguns pacotes são blefes pra confundir quem escolhe. Pegou o presente. Tira seu papelzinho e minha amiga oculta é... Ciclana. A ciclana pode escolher um presente da mesa ou roubar o que o Fulano pegou. Aí começa a sacanagem. O presente só passa a ser seu se ninguém achar interessante ou então após você ser roubado duas vezes, depois disso não podem mais te surrupiar. Em suma, começa meia-noite e vara a madrugada, uns roubando de sacanagem, filhos roubando pra devolver o presente da mãe porque viram que ela tinha gostado, outros filhos roubando pra que o pai tenha sucesso na sacanagem, pais roubando pros filhos, um bacanal total em clima de Ho, ho, ho.
É óbvio que o primeiro ano foi um fracasso, com presentes que iam de toalhas a potinhos de plástico. Institui-se então o valor mínimo, o que não mudou muita coisa já que existem muitas coisas horrendas que podem ser compradas por R$20,00. Nosso núcleo familiar então começou a comprar livros, o que foi seguido no ano seguinte e melhorou a qualidade dos presentes. Ainda assim, mesmo alguns não tendo lido nunca nem uma orelha, o barato era roubar.
No último amigo oculto levamos as crianças e ficamos fora do sorteio, já que o avançar da hora não permitia nossa participação. Mas nem por isso deixamos de participar de um. Minha mulher me comunicou que as crianças estavam inscritas no bebê oculto das suas amigas da lista de internet, todas com filhos pequenos. Indaguei logo com seria o sorteio e ele me mostrou um mecanismo que faz isso pela internet, lugar também onde os pais já deixavam suas indicações de presente. Como não poderia deixar de ser o prejú é ao quadrado, já que temos que comprar dois presentes.
Tudo marcado, chegamos ao local combinado, um tradicional parque com verde. Como íamos de táxi e morávamos um pouco mais longe, saímos mais cedo pra chegar na hora. Pra variar não tinha ninguém lá, ou melhor, acho que não.
Enfurecido por ter que acordar cedo e preparar as coisas com se fôssemos ficar uma semana fora, incluindo aí colocar dois carrinhos transformers dentro de um Táxi e sem ninguém nos acompanhando, percebo aquela cara de paisagem da minha mulher. Começo a perguntar se ela já estava vendo alguém do grupo, pra podermos montar acampamento. Aí ela vai me enrolando, e eu pressionando, e ela me enrolando, até que ela entrega: não sabia dizer se alguém já estava lá porque ela só conhecia as meninas pela internet!!!!! Minha reação foi imediata: "O quê???? Tá de sacanagem??? Tu nunca viu estas pessoas???" Era o início então do primeiro bebê oculto, literalmente oculto.
Resolvemos então nos alojar e deixar as coisas acontecerem, já que não havia lugar marcado e não sabíamos quem eram as pessoas. Mas sendo gêmeos, tínhamos uma vantagem de sermos descobertos ao invés de ficar pelo parque abordando as mães com filhos pequenos: "É bebê oculto? É bebê oculto?" Passa o tempo e pelo mesmo fenômeno que você encontra seu amigo num maracanã lotado com 80 mil pessoas sem marcar nada, os presentes foram reunindo os participantes, já que ninguém se conhecia pessoalmente. Conversa vai, conversa vem e eu fanfarrão começo a contar que as crianças estavam na fase de roer tudo, que os móveis lá de casa estão todos com marcas de dente e piriri, poróró. Sinto então que os semblantes não acompanham minha história.
Aí pergunto: "os filhos de vocês nunca fizeram isso?" E naquele misto de silêncio e "aaaaaaaargh, eles comem madeira" todos responderam negativamente com uma cara de "meu filho não, Deus me livre". Aposto que depois quando fomos embora rolou um "caraca, tu viu? As crianças comem madeira, deve ser doença". E não se enganem: até hoje eles roem a casa, com especial predileção pelo braço da cadeira de balanço do falecido vô Didi que repousa em nossa sala. Deve ser uma madeira nobre, se bem que eles curtem também um MDF. Acho que já não é nem mais dente coçando, já virou um vício mesmo, como a palha no canto da boca e coisa e tal. Tem vezes que eles ficam no braço da cadeira como se estivessem comendo milho, vai roendo até em cima, voooooooooooolta, vai roendo até em cima, voooooooooolta e as vezes os dois juntos, em sincronia.
Como combinado, todos levaram um lanchinho e por aí tentamos interagir. Sempre tem aquele bolo triste que de tão feio ninguém toca, aquela guloseima que todo mundo voa e uns petiscos. No final, beijos e abraços pra todos os estranhos que conhecemos e nem sabemos se gostamos ou não, afinal, em duas horas ninguém deixa de ser oculto.
E terminamos na frente do parque com dois carrinhos, as crianças no colo e as bolsas penduradas. Não dava nem pra fazer sinal pro Táxi. A água que compramos foi a moça da barraquinha quem serviu, porque não conseguíamos abrir. E é claro que, pra facilitar, as crianças só queriam beber no gargalo...
Eu sou do tempo em que bebê oculto era esconder gravidez.
Fala sério! (ao quadrado)
Ó, se isso te consola, nosso beliche (meu e do vini) era todo roído. Aliás, era uma delícia! hahaha nham :)
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