quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Sem filhos por opção


Bem, vocês sabem, eu devia estar estudando, blá blá blá, mas a vontade de escrever prevalece, fazer o quê? Pela manhã, vindo para o trabalho (sim, cá estou) na minha Mercedes com motorista que cabem 44 pessoas sentadas e 124 em pé, estava escutando como faço todo dia a Band News, porque me amarro no Boechat e é uma boa forma de se manter por dentro e aproveitar o tempo ocioso no translado. Hoje foram entrevistados os autores do livro "Sem filhos por opção" que, é óbvio, tratam do tema mostrando como ainda hoje a família que não tem filhos é vista com desconfiança, principalmente se a opção por esta escolha for da mulher. "Nossa, vocês são casados e não tem filhos? Ela tem problema? Ele é broxa, quer dizer, tem disfunção erétil? Ou o leite é ralo, quer dizer, seu sêmen apresenta baixa contagem de espermatozóides sadios?" são algumas das perguntas normais que surgem nestas situações. Além disso, uma dose de pressão familiar, dos pais querendo ser avós, dos irmãos querendo ser tios, do dono da loja de brinquedos querendo aumentar os lucros. Se for filha única então, arrisca colocar um ponto final na continuidade do sobrenome e meter um machado na árvore genealógica. Dá pra ficar bolado, dá não? rsrsrsr

Enfim, conversa vai, conversa vem, eles falam os prós e contras, explicam os motivos da sua opção, o motivo desta escolha, piriri, pororó, coisas que vocês devem imaginar muito bem, afinal, ao menos uma vez já argumentamos sobre isso com alguém próximo que não tem filhos ou que sabemos não querer. O que me chamou mais a atenção foram os termos utilizados por eles e a forma como o tema era tratado. Vejam bem, não li o livro, estou falando de orelhada, vou até comprar pra minha irmã Bibi caveirão que fez esta opção mas se deu bem porque supri sua falta logo com dois de cara rsrsrs. Pode ser até que esteja cometendo uma injustiça, mas duvido muito que o que vou falar esteja lá dentro, ao menos dessa forma.

Eles falaram muito de projetos, pessoais, individuais, de vida. Que eles tem muitos projetos e que um filho, pra que fosse educado e amado com qualidade, necessitaria de um tempo que eles não dispõem no momento, tempo e dinheiro. E nem por isso eles deixam de gostar de crianças, são professores e ajudam adolescentes em diferentes esferas que não a paterna/materna. Opção, simples assim, nada a ver com egoísmo e outras besteiras mais, opção e ponto. Bibi caveirão não é mãe, nunca vai ser, mas despende todo seu tempo em ajudar os outros como assistente social, principalmente os mais desfavorecidos. Não existe ligação nenhuma entre os dois fatos, não é que não gostem de crianças, é simplesmente uma expressão, um reconhecimento de que "eu não nasci pra isto". Gosto de crianças, acho legal o amor familiar, seus laços, enlaces e brigas, mas não é a minha. Vou colaborar com o mundo de outra forma que não procriando, sei lá, cuidando das crianças dos que procriaram e as largaram no mundo. Mas o que me chamou a atenção mesmo, que me fez pensar, foi uma alteração fundamental na nossa sociedade, que de tão comum já hoje parece banal: viramos, todos nós, um projeto.

Eles a todo momento falavam que tinham seus projetos sociais, que filho é um projeto, que projeto isso, projeto aquilo. O filho hoje é uma conta matemática: de quanto você vai gastar, de quanto tempo ele vai te tomar, de quantas viagens ele vai te privar, de quantos livros ele vai te afastar e etc. Vejam bem que o argumento é sutil e, se não entendê-lo, corre-se o risco de interpretá-lo de uma forma enviesada e perigosa. Não estou tomando partido, quero simplesmente mostrar uma mudança. 

As famílias eram numerosas antigamente por alguns fatores. Dentre eles podemos destacar os enlaces entre famílias que geravam herdeiros, reis, rainhas. A dinastia, fundamental para se entender capítulos e milênios da história, é um bom exemplo. Não é a perpetuação da espécie em si, mas a perpetuação de um modelo de família, de ideias, de formas de se comportar, de narrativa, de história sem fim. Projeto, meus caros, tem dia e hora pra acabar. Eles criam vínculos temporários e não oferecem aos que vivem deles uma narrativa de vida, um sentimento de retiliniedade da sua história, estão sempre recomeçando do zero, do nada, e o que fizeram antes é descartável, pois agora o projeto é outro. Um filho tratado como projeto, e não me canso de apontar a sutileza da argumentação para que não me acusem de estar detonando os que fizeram esta opção, não é um filho em si, na acepção da sua concepção, pois dele nasce justamente o contrário: elos duradouros, história contínua e necessidade de se manter no curso de uma trajetória, com responsabilidades que não podem ser negadas ao seu bel prazer tipo "porra, me deu na telha: partiu pra...". (caraca, esse parágrafo foi escrito em apneia, tava quase morrendo antes do ponto final rsrs).

O filho era, novamente como nos mostra a história, a perpetuação da profissão, da família de padeiros, de médicos, de professores, enfim, um elo que tornava indissociável o nome do labor. Os filhos vinham como ajudantes, pra colaborar na oficina, pra arrumar mais algum. É claro que ainda hoje temos este tipo de demanda e que ainda temos casos concretos com estes exemplos. A diferença, ali escondida no detalhe, é que antes, lá atrás, a prosperidade, a felicidade, o sucesso, o êxtase só fazia sentido na coletividade, sendo a família seu eixo central, sua base. O “é impossível ser feliz sozinho” de Vinícius lá nem se discutia, porque só discutimos aquilo que duvidamos. Não que não fosse, mas seu sentido só ganhava a amplitude esperada se fosse uma conquista em conjunto, de todos. Hoje, meus amigos, na era da individualidade, do meu projeto, das minhas prioridades e do meu rabo e umbigo, é claro que isso se altera de forma dramática. 

Por mais que queiram e apontem os motivos, um filho nunca, eu disse nunca será um projeto, está muito longe de ser. E não porque tenha algo contra os projetos, nada disso, mas apenas porque creio no fato de que nós escolhemos os projetos enquanto que os filhos que nos escolhem pra viver. Dentre tantas possibilidades, com tantos lares e lugares pra eles pousarem, escolhem justamente o seu, sua casa, seu país, seu planeta. O projeto, quando acaba, você busca logo outro. O filho, quando acaba, acabamos junto. Sabemos o dia que vamos nos separar do projeto, tá no contrato, mas nunca saberemos quando nossos filhos, mesmo depois de partirem, vão voltar novamente e precisar do nosso abrigo. 

Pra terminar, de verdade, só uma similaridade: precisamos de ambos pra viver, ao menos os que nesta opção se enquadram.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Esse tal do consumismo

Pois é, eu devia estar estudando agora direito processual do trabalho mas vocês teimam em me perturbar. E logo agora que tenho que redobrar todos os esforços, pois ontem chegou aquele envelope maravilhoso da creche, falando da nova mensalidade de 2013, da taxa de reserva de vaga, da compra da agenda, da taxa de material, coisa pouca vezes dois. Maldita hora que não aderi à (des)escolarização da Anne! Aliás, sei não, ando meio desconfiado. Ela escreve textos grandes e bem elaborados, com conteúdo, os filhos não vão pra escola, ou seja, ficam com ela, ela aderiu também ao movimento sem babá/empregada, o que pede mais tempo pra arrumar a casa. Isso sem falar o tempo de fazer a comida e dar banho. Não vou falar porque ainda não tenho provas, mas tenho certeza absoluta que tem algo estranho no ar. Pra mim, na boa, ela cria dois tamagotchis. Quando eu conseguir as fotos entrego lá no Divino e acabo com essa farsa. Tamo junto, Rita!

Dei uma zapeada aqui pelos textos e vi que o tal cartaz do dia livre do consumismo ganhou espaço com a chegada do dia das crianças. Eu, como bom Rodrigueano, sempre desconfio do que é unânime. A princípio eu discordo sem saber porque, mas com o objetivo fundamental de fazer com que todos que pensam da mesma forma se questionem e encontrem os motivos que os levaram até esta posição já que, com certeza, muitos deles não sabem. É o que chamo de argumento Xicó, do Auto da Compadecida: "Não sei, só sei que foi assim." Depois posso até concordar, sem problemas, mas que cada um saiba fundamentar e argumentar em defesa própria e não surfando nos argumentos alheios. Hora de confundir.

Primeiro, minhas amigas, o presente não é invenção do Tio Sam e muito menos fruto de uma sociedade consumista, capitalista. O presente existe desde que o mundo é mundo, mesmo antes da espécie humana começar a destruí-lo. Nem mesmo sua conotação de agrado, de troca, se modificou. Dar um presente não te faz um consumidor de imediato, ainda que você gaste algum dinheiro com ele. O que hoje pra você é valorado como dinheiro era, proporcionalmente, o esforço feito pelo caboclo pra caçar o papagaio e fazer um belo cocar pra sua esposa. A diferença é que o fruto do trabalho dele é direto e prático, enquanto que o fruto do seu trabalho é mediado pela troca de um papel com valor acordado socialmente. Enquanto o cacique vê o resultado do seu trabalho nós, desapropriados dos meios de produção, chegamos ao objeto desejado de forma indireta. No entanto, não se enganem: ambos os presentes são, antes de tudo, representação de um esforço para agradar alguém, uma vontade de transformar a batalha diária em bandeira branca, de ver que apesar de tudo, é possível extrair da exploração momentos inesquecíveis.

É claro que você pode dar um presente sem gastar um real, os sovinas também são de Deus rsrsrs, passar o dia junto, promover atividades lúdicas, coisa e tal, óbvio que isso é importante, mas eu nunca me esquecerei do dia que ganhei minha primeira bicicleta, minha primeira vara de pescar e, principalmente, meu Papa Tudo Trapalhão, que tinha Dedé, Mussum, Zacarias e Didi com mãozinhas pra engolir bolinhas que ficavam pululando em uma arena na frente. Cada criança controlava um personagem e era muito maneiro. E vou poupar vocês do surto quando ganhei o Atari. O que quero mostrar é que uma coisa não é incompatível com a outra, que elas podem conviver bem dentro de certa medida. Tenho uma implicância danada com extremismos porque, agindo dessa forma, você acaba demonizando o outro e, o que é mais perigoso, os outros, causando em muitos até uma certa arrogância ao olhar pro lado e dizer "nossa, você ainda compra presentes pro seu filho?" 

Como eu me diverti com isso. Tinha as caras do Dedé e do Zacarias pra encaixar se quisesse mudar de personagem. Tô emocionado...


Consumo não é sinônimo de compra, muito menos de consumismo, ele pode ser simbólico. Quem adota este valor esquece que as vezes é infinitamente pior consumir determinados tipos de ideologias e mentalidades do que comprar algo. É muito mais perigoso e destruidor para a formação do caráter das crianças este tipo de ameaça do que um patinete. É muito pior sua atitude diante de um mendigo esparramado no chão que você pula do que comprar uma roupa do Batman. O Consumo simbólico é mil vezes mais perverso do que o consumo financeiro.

Existe um cara chamado Marcel Mauss que escreveu um livro muito bom chamado “Ensaio sobre a dádiva: forma e razão da troca nas sociedades arcaicas”. Em resumo, podemos compreender que toda forma de troca carrega um significado especial e muitas vezes não aceitar um presente pode ser uma atitude extremamente desrespeitosa e rude. Ela em si, esta troca, não é malvada nem corrosiva, pelo contrário, ela estabelece vínculos duradouros e fortalece os que já existem, sem significado econômico algum. O grande ensinamento é que cada ato desse, cada presente, feito por você ou comprado, não importa, carrega consigo uma intenção, que não deve ser renegada pelo simples fato de ter se utilizado de papel moeda para adquirí-lo. A troca, o presente, ensina ele, é fundamento de toda sociabilidade e comunicação humana, em sociedades capitalistas ou não. Realizar o sonho do seu filho depois de um bom tempo juntando dinheiro para comprar aquilo que ele tanto queria não te faz um crápula. 

Na verdade, estamos ensinando a ele perseverança, que nada se ganha sem trabalho, que o que ele quer não cai do céu, que as vezes temos que abrir mão de alguma coisa pra conseguir o que se quer e que, finalmente, o valor que damos ao que temos está ligado diretamente ao esforço dispendido para a sua conquista. 




segunda-feira, 8 de outubro de 2012

La garantia soy yo

Não sei vocês, mas eu fico muito bolado quando estou com médicos, principalmente quando se trata do pediatra. Nada a ver com medinho de agulha ou sangue, todo mundo sabe aqui que sou líder de manada, que não tomo mel, mastigo abelha, não viajem. A sensação que tenho quando estou diante daquele cidadão é algo parecido com o que sinto quando vai um cara fazer o orçamento da geladeira lá de casa, um misto de impotência diante do desconhecido mundo da refrigeração com uma quase certeza que ele vai falar que ela tem um defeito que não tem, que ele vai trocar uma peça que está boa por outra boa, ganhando também na revenda da minha peça sem ao menos me dar qualquer participação nos lucros e, por fim, vai me olhar, coçar a testa e dizer que o serviço vai custar uns R$200,00. Ah, é claro, fora o valor da peça. 

Aí eu olho pros cornos dele, ele me olha com cara de "será que esse playboy cai nessa história?", e digo "tá bom, cara, obrigado, qualquer parada te ligo". E já recebo os outros 4 que marquei no mesmo dia. Cada um com um orçamento, cada um falando que a peça quebrada é outra e que o cara anterior tava querendo me enrolar e, no final você, indefeso diante de tantos especialistas e afastado da possibilidade de um parecer próprio, escolhe pela cara. É isso mesmo, a escolha é pela cara, pelo jeito de falar. Escolhemos aquele que passou mais confiança no que disse, que parece não querer nos enrolar, eu disse parece, que mostrou piedade vendo a loucura da rotina com duas crianças em casa e se sensibilizou pensando nos gastos que nós já temos. Se ele tiver filho, e gostar deles, melhor ainda, aí o preço cai com certeza. Este é um fator importante, o cara ser pai. O que fazemos na verdade são entrevistas com os candidatos ao conserto já que qualidade técnica todos tem, ou ao menos deveriam ter.

Com o pediatra é a mesma coisa. Sabemos - imaginamos - que todos estejam ali após concluir seu curso de medicina reconhecido pelo MEC, com média suficiente pra ser aprovado e, de preferência, sem nunca ter copiado trabalho da internet. A princípio, todos estariam aptos a cuidar de nossos filhos mas, no final, acabamos escolhendo muito mais pelo jeito como ele nos trata, quanto tempo ele passa nos escutando, o quanto de atenção ele oferece, o quanto ele se mostra preocupado com os nossos rebentos quando eles apresentam um terrível e perigosíssimo quadro de nariz escorrendo ou tosse. Pediatra hoje é a toque de caixa, vamo simbora porque tem criança chorando na recepção e eu cheguei atrasado. E ainda tem alguns que acham ruim quando ligamos pro telefone que eles mesmo disponibilizam no atestado. Pronto, após esta breve introdução, vamos ao que eu queria escrever de fato rsrs.

Levamos as crianças para fazer teste de alergia e deu positivo para ácaros e insetos. Quando um mosquito pica um deles o local fica inchadaço, quente, troço feio mermo. E mosquito não morde só uma vez. E o ácaro explica o nariz entupido constantemente, com corizas esporádicas. Depois de tomar as devidas providências, como queimar os bichos de pelúcia em praça pública e tomar uma facada na farmácia, veio o pior. Cada um teria que tomar a vacina contra a alergia que, a princípio, custaria R$120,00. Não se esqueçam, cada um, por seis meses. Mas o pior não é isso. A vacina tem uma fórmula específica, de acordo com cada tipo de ziquizira. E aí qual é a surpresa? Hein? Hein? O laboratório que aplica a vacina é o do médico. E é assim em todos os casos. Aí tu já fica boladão e pergunta: será que é isso mermo ou esse safado tá querendo lucrar algum em cima dos meus filhos, fazendo essa venda casada desgraçada sem ao menos eles precisarem? Nunca saberemos e eles sabem que é justamente esta dúvida que nos corrói que vai sempre fazer com que pequemos sempre pelo excesso, nunca pela falta. Vai que é verdade, né não? Aí nunca nos perdoaríamos.

E diante destes valores fomos então em busca de vacinas mais baratas. Mas aí precisamos da fórmula detalhada da vacina, certo, pra poder uma outra pessoa fazer. E vocês acham que o alergista deixou esta fórmula explícita no atestado? Claro que não, seus tolos, a não ser que vocês achem que a fórmula da Coca-Cola tá no verso da tampinha. Ele esconde aquilo pra que só possamos fazer a aplicação nos laboratórios conveniados, no caso os dele mesmo. O que ele não contava é com a entrada em cena de minha irmã Bibi caveirão, assistente social que conhece todos os meandros da burocracia e os esfrega na cara de qualquer um que tente nos privar de nossos direitos citando coisas absurdas. Ainda mais se os "gordinhos" dela são os pacientes. Me parece que vamos conseguir, minha Giullinda de Iansã também tá no circuito e é bom ele se cuidar. Essa fórmula vai aparecer e, se ele soubesse, já tinha dado na primeira consulta. Ah, e assim poderemos pagar R$80,00, isso mesmo, pela mesma vacina, só que em outro lugar.

Por fim, queria deixar aqui uma coisa que venho pensando sobre os pediatras. Vejam bem, não é nada contra todos eles, só alguns, mas fico com a nítida impressão de que pra que abram seu consultório basta que aprendam três palavras: Rotavírus, Virose e Amoxicilina. Pronto, tá na mão o diploma. Eu sei, eu sei, não tem nada a ver com o texto acima, mas eu fiquei com medo de esquecer esta elucubração rsrs.