sábado, 26 de fevereiro de 2011

A Era do Ultra

O inventor da Ultra
Duvido que vocês não tenham isso encafifado na cabeça: como as mulheres passavam, e algumas ainda passam, os nove meses de gravidez sem ter a ultra? Pra mim a invenção deste aparelho está para as mulheres da mesma forma que o Google está pra quem precisa escrever um tese ou dissertação: praticamente impossível se imaginar o parto - dos bebês ou do trabalho final - sem tais ferramentas.

Após a gravidez confirmada é chegada a Era do ultra, amigo, prepare-se. Toda mulher sonha em ter um aparelho desse em casa, pra ficar olhando a cria o tempo inteiro durante os nove meses de gestação. Principalmente depois que a Ivete Sangalo disse que tinha uma dessas em casa. E não pára por aí. A moda agora é a Ultra 3D, que significa 3 dígito$. Uma dessa por mês e você nunca mais vai querer botar aqueles óculos coloridos na cara.

Hora do primeiro encontro com as crias na telinha. No início é pela "bacurinha" e conforme a barriga cresce, passa a ser por cima. Adentramos a sala. Fica a médica com o computer na frente dela e uma outra televisão no alto para os pais. Ah, amigo, e não se esqueça do DVD. Como assim? É isso mesmo: a moda agora, além do 3 Dígito$, é gravar tudo no disco. Você entra na sala e a ajudante já pergunta: "trouxe o DVD?"

Início do exame. Você com aquela cara de "não tô vendo nada, liga a NET" e sua mulher achando, já nervosa, que eles não estão lá. Pois é, não se vê praticamente nada, ainda que a médica se esforce para tal. Ela vai apontar e dizer "tá vendo, são estes dois pontinhos aqui" e você vira e diz "claro, tô vendo sim, são estes dois pontinhos pequenos um de cada lado", com aquele sorriso sonso de quem não tá vendo lhufas. A sorte é que ela não vai te mandar apontar, aí estavas perdido. Você ia acabar colocando o dedo no respingo de gel que foi colocado na barriga da paciente anterior. E não se esqueça: quando sua mulher perguntar: "tá vendo amor, não são lindos?" responda com um sonoro: "claaaaaaaaaaaro que estou, são os dois pontinhos, quer dizer, as duas crianças mais lindas que já vi". Alguém apertou o REC no DVD?

Nesta nossa primeira ultra passamos um certo susto. A médica começou a olhar e sentimos uma certa apreensão de sua parte. Mexe pra lá, mexe pra cá e ela manda: "tem certeza que são gêmeos?" Pânico geral. Silêncio. Cutuca dali, acolá, ela já vem com uma conversa do estilo o gato subiu no telhado: "acontece em muita gravidez gemelar, um feto não se desenvolve e é absorvido pelo organismo naturalmente, e isso e aquilo". Diz aí? Sinistro, né não?

Foi quando, durante o tempo em que nos recusávamos a acreditar na notícia, ela quase deu um pulo e surtou: "peraí gente, achei, achei, tá aqui, tá aqui, nooooooossa tô até nervosa, ele tá escondidinho aqui no canto, olha, olha". Mermão, que alívio, ainda que eu continuasse a não ver xongas. Mas se ela tava falando é porque devia estar lá mesmo. Aconselho vocês a levar junto com o DVD uma TV full HD de LED 42' que assim nada escapa. Já imaginou uma vida ignorada por culpa de uma baixa resolução?

E a saga continuou. Em outro momento ela apontou que existia um pequeno descolamento de placenta e que minha mulher deveria ficar de repouso absoluto. Até hoje suspeito delas, de uma combinação às escuras enquanto fui ao banheiro, mas tudo bem. Aí já viu, né parceiro? Pra descer a escada do prédio, com quatro degraus, foram uns 35 minutos, me senti na Penha. Chegando em casa, direto pra cama, onde ela estava decidida a ficar 1 mês sem se mexer. Ir ao banheiro para o number two só depois de um bom laxante, pra evitar o esforço. Rir era bom evitar também. Fora isso, enjôo. Não é o paraíso, irmão?

Ela no sofá, debilitada, decidida a não se locomover ou fazer qualquer tipo de esforço, sofrendo com as náuseas e pedindo ajuda. Eu, eivado de compaixão e ternura, respondia com um ar de lamento: "amor, o quê eu posso fazer? " rsrsrsrsrs. É, guerreiro, já imaginou ficar um mês a disposição de sua mulher, acatando todas as suas ordens e desejos, sem poder falar nada pra não parecer insensível? rsrsrs. Sinuca de bico da porra! rsrsr

Com o passar do tempo você vai ficando craque na ultra. Já distingue tudo e se prestar atenção pode até questionar o exame. Isso é fundamental, porque vai chegar a hora de você mostrar o DVD pra galera e aí se não fores safo, neguinho vai boiar. Todos reuinidos para assistir 30 minutos de DVD mostrando o exame completo, você narrando como uma chegada alucinante do GP Brasil de Turfe, cabeça a cabeça, praticamente formado em anatomia, e todos com aquela cara de interrogação que você conhece bem. "Tá vendo aqui? Isso é o braço. Tá vendo aqui? Isso é a perna". Estranho, né? Você mostrar um braço e uma perna e ter que explicar pra pessoa que se trata de um braço e de uma perna mesmo me parece meio surreal, mas é isso aí. É igual ao Indiana Jones quando vai atravessar aquele precipício: ele não tá vendo, mas acredita que a rampa está lá.

Passado o tempo e hoje as crianças com 1 ano é claro que não fazemos a mínima ideia de onde foram parar os DVDs. Acho que ela sabe onde devem estar alguns e olhe lá. O Katrina que passa lá em casa diariamente pode jogá-los em qualquer lugar, fazendo-os mudar de posição a todo instante. Só para vocês terem noção, anteontem, depois de mais uma busca ao tesouro perdido de Hipoglós, que realizo bufando diariamente, fui saber que seu cadáver estava dentro do pote de Toddy.

Fala tu...

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Bem, amigos!

Vamo que vamo. Passada a hora do susto surge a necessidade de se contar aos amigos e familiares a existência dos dois bacuris. Os ditames da prudência aconselham aos pais que só informem aos outros da gestação após completados três meses de desenvolvimento, já que até este período existe o risco de, na linguagem popular, o bebê não vingar. Em nosso caso então, de gravidez gemelar, a prudência deveria ser maior ainda, já que o risco era ao quadrado. Teve até uma suspeita de descolamento de placenta que fez minha mulher ficar deitada um mês, com medo até de ir ao banheiro e espirrar, mas até hoje acho que foi viagem da médica.

Mas aí, amigo, cá entre nós, segurar uma notícia dessas é a mesma coisa que entrar em um elevador lotado e prender aquele seu melhor peido silencioso: tu sabe que não é certo, mas ver a cara das pessoas depois disso não tem preço (alô Mastercard!). Imagina você encontrar sua mãe, seus irmãos, seus amigos do peito, com sua mulher do lado prenha de dois, e não falar nada. É traição. Além do mais, depois de uma notícia dessas, sua cara nunca vai ser a mesma, pra melhor ou pra pior, e quem te conhece matará a charada rapidamente.

Comecei então pela família. Ainda atordoado com um mundo inimaginável que estava me aguardando daqui a nove meses, resolvi procurar no conforto dos laços sanguíneos palavras que me trouxessem um alento, alguém que me acalmasse, que tecesse comentários otimistas a respeito do futuro e que me convencesse de que a batalha seria dura mas feliz. saquei o telefone da base e liguei para minha querida irmã Creuza, a governanta dos Cappelli, na certeza de que encontraria ali o refúgio para meu desespero. Segue o diálogo:

- Creeeeeeeeeeeeeeeeeeeeuza (riso desesperado)
- O quê foi, Creuzo?
- Creeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeuza
- Que foi, garoto, fala logo!
- A Giulli tá grávida!
- Como assim?
- Tá grááááááávida
- Creuzo, vai ser pai...
- De gêmeos, Creuza, de G-Ê-M-E-O-S
(pausa. Era aqui que eu esperava as plavras que disse acima)
- Que loucuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuura...
- Socorro, Creuza...
- Que loucuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuura...
- Vou me jogar aqui de casa....
- Que loucuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuura...

A conversa continuou e aí percebi que só estranhos podem ajudar neste momento. Ninguém do seu círculo de amizades ou familiar está pronto pra receber uma notícia dessa, ninguém sabe o que te dizer, se parabéns ou meus pêsames. As ligações foram se sucedendo e cada vez tinha mais certeza disso. Meu querido irmão animal fazia festa pelo telefone e repetia: "Calma, rapá, vamo junto, é guerra!" Conta pra mim: vocês conhecem alguém que vai pra guerra tranquilo??? Tudo bem, ele tentou. 

Mais um número, desta vez para meu pai postiço, que eu chamo de filho: "Filho, a Giulli tá grávida de gêmeos!" E ele que também me chama de filho, parecendo uma preta-velha daquelas bem gordas e quituteiras, respondeu: Fiiiilho, ê, ê! (e soltou uma risadinha) Dois, filho! Noooooossa! Só faltou o "suncê mizifio vai tê que reforçá o trabalhadô pá ganhá bastante bango*". Depois, direto do Nirvana em que habita, tentou me consolar falando que se os deuses me mandaram dois era porque eu tinha capacidade de cuidar deles bem, e que o universo iria conspirar a meu favor para que tudo desse certo. "Filho, se o universo lhe concedeu esta graça é porque irá lhe ajudar no seu sustento". Sei não, tô achando que o que ele chama de universo eu chamo de bolsa-família.

A mama então, cansada de acreditar nas mentiras que conto com espetacular veracidade e nos mínimos detalhes, demorou alguns minutos pra acreditar, mas mesmo assim fez uma festa tímida. Só da Creuza já anunciei umas três datas de casamento com meu cunhado cabeção. Eles só souberam depois que começaram a receber ligações de amigos próximos reclamando que não tinham sido avisados rsrs. Acho que ela só ia acreditar de fato depois de ver um exame nas mãos.

Restava avisar aos amigos. Resolvi então promover um encontro na minha casa, nada de anormal tendo em vista que sempre nos reuníamos lá. Todos presentes, começo o meu discurso. Embroma pra lá, enrola pra cá, faço uma gracinha e anuncio que ela está grávida. E antes que pudessem esboçar qualquer reação, completo: DE GÊMEOS!!! E aí, meu camarada, foi um trelelê geral. O piu, meu gafanhoto de estimação, parecia comemorar o ano-novo, gritando e abraçando a todos indiscriminadamente, como se estivesse na praia. Só faltou a palma branca. Mari, Gabi e Anna, futuras madrinhas, pareciam aqueles três macaquinhos: uma colocou a mão nos olhos, a outra na boca e a última nos ouvidos, estateladas com o anunciado. Vânia, minha prima artista, pela primeira vez desde que eu a conheço, bateu seu recorde e ficou sem falar durante 4 segundos, procurando com os olhos ao redor o que devia sentir.

A namorada de um amigo meu, tadinha, chorava igual final de filme em que o mocinho morre. Renatinho, que eu chamo carinhosamente de Omulu de varginha, um mix entre orixás e ETs, do jeito que estava ficou, apatetado na cadeira de balanço do falecido vô Didi que compõe nossa sala. Com um sorriso meia boca, repetia: "gente, como assim? Como assim?" Jamaica, meu afro-animal de estimação, esticou a beiça e arregalou os olhos: "manero, mermão, manero". Eu tenho isso filmado, vou ver se coloco aqui pra vocês verem. No vídeo, mesmo sem conhecer ninguém, duvido que vocês não reconheçam estes artistas.

Aos demais, dava a notícia em duas etapas. Primeiro dizia que ia ser pai, e aproveitava os parabéns e felicidades que se seguiam. Após o alvoroço, completava: de gêmeos. É impressionante como o semblante da pessoa muda e passa a te fintar com um ar de pena que dá dó rsrs. Chega a dar pra ver aquele balãozinho na cabeça do cidadão: "tá fudido! Este se estrepou!". Do parabéns a um constrangido boa sorte era questão de segundos rsrsrs. Omar, um amigo meu, sempre repetia que quando estava com a filha dele ficava pensando: "que sorte eu tenho, podiam ser dois" rsrs. Igual a um cara que encontramos no shopping com cara de acabado, com a mulher e uma filha pequena. Sabe como é, um casal de gêmeos torna todos do bairro e demais desconhecidos em seus amigos de infância, íntimos como nunca. A mulher disse que a filha tinha dado uma canseira nele. Depois que ele me viu chegou a revigorar, certamente pensou: "porra, podia ser bem pior" rsrs. Virei exemplo do ditado "nada está tão ruim que não possa piorar".

Todo mundo avisado. Agora era só esperar os presentes. Ao quadrado, claro.

*Aos que não são macumbeiros, bango significa dinheiro na língua dos Preto-Véio.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Um causo do cumpádi


O Jênio já treinando pro grande ato final

O texto de hoje não tem nada a ver com um pai de gêmeos ou mesmo com as crianças. Não tem nenhuma relação com o objetivo deste blog. Não passa nem perto disso. Mas sabe como é, o cara é padrinho, meu deu um celular todo wiskin (é como meu afro-animal de estimação e também padrinho das crianças Jamaica chama os telefones com tela sensível ao toque. Ah, tem também o home titi, que é aquele som que vem por todos os lados. Esta história dos padrinhos conto mais tarde.) deu a banheira que as crianças usam até hoje e uma camisa show de bola da seleção do Peru. Além disso é um grande irmão que tenho, a família que se escolhe.

Trabalhando com direitos humanos, Alvitinho começou defendendo os camelôs de Icaraí. Ordenava aos guardas municipais bater só da cintura pra baixo (depois que ele viu Tropa se comoveu com a súplica do baiano na cena final) e não fazer nenhuma apreensão: era pra pegar e dar uma bicuda na banca porque a prefeitura não tinha depósito. Depois trocou a brisa da Boa Viagem pela Garoa paulista, onde hoje acelera a "la poderosa"* defendendo os direitos humanos dos companheiros e companheiras de toda a América Latina, de onde nos manda fotos maravilhosas de placas diversas (coisa linda, placas de ruas, de monumentos, de cardápios na rua rsrsrs) e nos atualiza com as melhores muambas dos hermanos. Abraçado com uma Lhama que ele trouxe de sua última viagem ao Chile, fitando a foto do Marcelo Freixo em tamanho real, ele lembrou deste causo que agora publico. É sensacional e, conhecendo ele, a gargalhada fica ao quadrado. Ôpa, tá vendo aí? Quem disse que não tem nada a ver com este blog?

Beijunda, animal!!!

Segue o texto...


Com a certeza que este blog, e seu editor, é heterodoxo o suficiente para permitir que seus leitores e entusiastas possam falar da visão dos homens com seus filhos, sobrinhas, primos menores etc. escrevo sobre uma história que vivi com meu pai. Ouvi este causo pela primeira vez da sua boca e divido com vocês.

A história tem seu inicio no longínquo natal de 1986. Neste ano Papai Noel recompensou todas as minha boas ações com uma bicicleta azul. Como estreava na atividade, o “camelinho” veio devidamente paramentado com duas ridículas rodinhas. Não me conformava com aquele fato vexatório, visto que toda bike de um moleque de 6 anos (incompletos) deveria ter apenas duas rodas. 

Como gozava das maravilhosas férias de verão, podia dedicar horas e mais horas ao ciclismo infantil. Resultado disto foi que, em menos de duas semanas, já não precisava daquele aparato odioso. Ato continuo da retirada das rodinhas, me desabalei pelas ruas mais movimentadas como se a cidade (Petrópolis) pertencesse só a mim.

Esgotado de tanto sobe e desce nas ladeiras imperiais, me encontrava prostrado nas cercanias do Hotel Quitandinha (distante uns 8 quilômetros do meu ponto de partida),  quando de repente, fui abordado por minha mãe que vinha de carona em um taxi fiat 147. Como ela me achou? Esta pergunta ainda permanece na penumbra da minha ignorância. Foi o maior susto e medo da minha curta existência. Depois de alguns tapas e uma prolongada lição de moral, a sentença foi proferida: pelo resto das férias eu e minha bicicleta não poderíamos nos afastar um milímetro da rua vizinha a minha casa.

Pensem agora na rua mais chata do mundo. Pouco mais de 50 metros de asfalto plano e sem graça. Esta era a minha triste realidade. Depois de dois dias de pasmaceira completa, decidi que estava em minhas mãos a responsabilidade de dar mais emoção para aquelas tardes vazias. 

Inspirado pelas provas de MotoCross que via o tempo todo na TV Manchete, decidi que eu fabricaria uma rampa! Já tinha um sorriso no canto da boca pensando nas horas e horas de saltos radicais! Estava decidido! Não precisava de muita coisa: uma boa tábua de madeira, minha bicicleta e algo que ajudasse a criar um ângulo da rampa com a rua.

A solução para estes pequenos contratempos estava localizada a apenas alguns metros de mim: perto havia uma casa que passava por uma reforma do tipo “obra de igreja”. Desde de um período imemoriável aquele casebre estava cooperando com os casos de dengue na cidade. Perfeito! Dá para pular o muro com facilidade e lá dentro eu consigo tudo que preciso. Dito e feito,  em um salto só já estava dentro da maltratada cachanga,  vasculhando por tijolos ou similares.

Quando já me preparava para voltar a rua com o pesado, vi alguns cabos pendurados perto da porta principal. Era irresistível examinar aquele emaranhado de mais perto.

Depois de uns 2 ou 3 minutos acordo completamente assustado. O cheiro de carne queimada que vinha dos meus braços só poderiam ser conseqüência de um choque relativamente sério. Cheguei na porta da minha casa soluçando e com muito medo. O cheiro estranho e as mexas de cabelo que saiam nas minhas mãos certamente não poderiam ser boa noticia.

O primeiro susto foi do meu pai. Minha mãe foi a que me levou para os hospital e encomendou o eletro encefalograma. Seu Milton, ajudou a tirar o que restava das sobrancelhas e me levou para raspar o que restava dos cabelos.

Hoje tento prolonga a sentença definitiva de dois processos perdidos que meu anjo da guarda move contra mim por trabalhos forçados. 

* "La Poderosa" era o nome da motocicleta que o Che percorreu a América Latina. Sabe como é, historiador acha que todo mundo deveria saber disso rsrsrs. 

** Queria aqui dar os parabéns ao Alvitinho. Este choque deixou sequelas e uma delas foi uma dislexia grave na escrita. Não precisei consertar praticamente nada!

*** Este causo explica sua reprovação no teste do pezinho. Isso que dá aprovação automática.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Um casal, dois casais

Meu amigo, o início da história é o de sempre, parece que estamos reclamando de alguém que marcou algo conosco e está dando um bolo: "já não era pra ter vindo"? "Não tá um pouco atrasada"? Pois é, parceiro, babou, a casa caiu. Geralmente essas são as últimas palavras de um casal a sós. É claro que você pode ainda tentar se acalmar e falar consigo mesmo" "isso já aconteceu várias vezes", "ela não regula bem" (com trocadilho se couber) ou então, como foi meu caso, reconfortar-se com um preguiçoso e tranquilo "besteira, ela toma pílula", se ajeitando pra ver o futebol na TV.

Assustado? É isso mesmo, ela engravidou  tomando anticoncepcionais, uma injeção mensal, porque pra uma pessoa que coloca o copo no filtro pra beber água e esquece é muito arriscoso apostar que ela vai lembrar de tomar um comprimido por dia. Pois é, nem cercando igual jogo do bicho escapei. Aliás, aqui vai uma dica, amigo: escolha sempre a mesma farmácia já que assim você diminui a quantidade de farmacêuticos que vão injetar algo na sagrada zona da região glútea de sua mulher. Se tiver peito e jeito, o ideal é você mesmo aplicar e tá tudo resolvido. Por fim, não se esqueça: é bom acompanhá-la, por via das dúvidas. Se não der pra ir, espie sem dar na vista se o local foi devidamente picado. Sabe como é: fogo morro acima, água morro abaixo e mulher quando quer engravidar não tem como evitar.

Voltando. Aí vocês devem já devem estar pensando do mesmo jeito que a maioria: porque não processou o fabricante do remédio? Entramos então em uma questão filosófica-religiosa. Ao decidir ter as crianças, presume-se que você vê com bons olhos sua chegada. Logo, processar o fabricante seria, indubitavelmente, culpá-lo por algo que trouxe algum tipo de prejuízo para você, o que gera uma contradição insuperável. Além do mais, ganhando a causa, como explicaríamos pras crianças que o dinheiro que os ajuda a sobreviver é aquele que nunca deveria tê-los deixado nascer? Percebem a complexidade da trama? rsrsrs. E por fim, meu caro, quem de nós tem coragem em falar pra uma mulher, a sua mulher, que já está na casa dos 30 ou mais - a idade paradigmática onde toca o cuco do relógio biológico a da perpetuação da espécie - que não é hora de ter filhos? Fala tu?

Mas da suspeita de gravidez até a sua concretização muito acontece. A primeira coisa a se fazer é o tradicional exame de sangue. Até então ainda me mantinha tranquilo, com minha fé na ciência inabalada. Feito o exame era chegada a hora da verdade: rasgar aquele envelope e confirmar que a ciência ainda é confiável e que, graças a Einstein, não deixei de comer nada que queria ou mesmo perdi um milisegundo de sono pensando nisso. Envelope nas mãos. Procuramos juntos as taxas que indicassem alguma coisa. Achamos então a que é principal (aqui vou dar valores proporcionais, pois não lembro os exatos) 4.200. Tranquilo, corro os olhos no papel procurando as taxas de referência e leio a seguinte nota: ABAIXO DE 50 A GRAVIDEZ É DESCARTADA!!!

Loucura total. Não querendo acreditar no que já estava mais do que claro, repetimos o exame, mais por mim do que por ela, que já estava soltando rojões e louca pra acariciar a barriga crescendo a cada mês. Esperávamos o resultado pela internet, atualizávamos a cada 3 segundos durante umas 4 horas. Numa dessas tava lá a nova taxa: 8.400!!! Olhei pra ela e falei, desse mesmo jeito: tu não tá grávida, tá muito grávida! No intervalo de 1 semana tinha dobrado! Já era um prenúncio. A sensação, meu amigo, só passando por ela. Tem um grande amigo meu que quando perguntado se estava feliz porque a mulher estava grávida respondeu: "cara, não tô não. Mas vou ficar". Figuraça. Minha reação? A mesma que tive na final da Libertadores quando o Washington chutou em cima do goleiro o penalti e perdemos o título em pleno maracanã, mesmo ganhando de 3x1 no tempo normal: o que é que eu vou fazer agora da minha vida? Da mesma forma que fiquei atônito na arquibancada, fiquei no sofá. Ela já pensava nas roupinhas.

Até aí, meu caro, tudo bem, bola pra frente que mais Libertadores virão, tal como hoje. Mas aí veio o dia da ultrasonografia. Ela foi sozinha. Toca o telefone e atendo. Ela, assim como eu, não rodeia e nem me amacia antes: "Roger, são dois! São dois!" Depois fiquei sabendo que a médica, ao constatar os gêmeos, tinha dito pra ela: "chega em casa com calma, prepara ele, conversa, dá a notícia pessoalmente, avisa que o gato vai subir no telhado...", em outras palavras, "prepare ele pra esta bomba".

Sábia médica, mas que não conhece a impulsividade de minha mulher, filha de Iansã, que em Iorubá significa mãe de nove. Vasectomia em pauta, não se brinca com os deuses. Com o telefone na mão, olhando pro espelho pra ver se era eu mesmo, puxando os cabelos pra cima, eu ria descontroladamente, como um psicopata ensandecido. Não sabia o que pensar nem o que falar, só tinha a certeza que me jogar da varanda não resolveria meu problema, porque do segundo andar eu ia, no máximo, conseguir quebrar alguns ossos, isso com sorte. No intervalo das gargalhadas perdidas, um silêncio que a preocupava do outro lado: "Você tá aí? Roger?" Quase respondo: "Roger? Que Roger? meu nome é Almeida, sua maluca!" E aí desligaria sossegado, apelando para que a realidade me desse uma chance.

Agora era contar pra todos e fazer as contas. Tudo ao quadrado.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Quem planta, colhe

Se vocês acham que a tragédia da região serrana foi um dos maiores deslizamentos de terra dos últimos tempos é porque vocês não conhecem minha varanda. Essa semana quase liguei pra defesa civil depois de entrar em casa, tamanha era a quantidade de terra espalhada. Para os que não conhecem minha varanda, ela é cumprida e estreita, de maneira que a terra espalhada interdita a passagem para o outro lado que vou passar a chamar de Lumiar. Até o exército chegar e montar uma ponte, só de helicóptero.

E aí vocês perguntam: "como assim"? E eu respondo. O sonho de minha mulher é criar as crianças em uma casa ampla e com quintal. Apesar de nosso apartamento não ser dos menores, as chances de um quintal eram nulas...bem, pelo menos pra mim. Ela rapidamente resolveu o problema: armou as crianças cada uma com sua pá e partiu pra varanda determinada a criar seu jardim suspenso de Vila Isabel, de dar inveja aos babilônios.

Começaram então a cavar e tirar toda a terra dos vasos e colocar no chão, usando a pá, a mão ou qualquer outra coisa que sirva. Vale também jogar pela varanda, junto com os brinquedos. Thomaz é uma espécie de jardineiro fiel e enquanto mexe com a terra fica em transe, o que acaba sendo bom pelo descanso proporcionado neste tempo. Já Sophia vai na onda, mas não é muito a dela. No máximo segura sua pazinha com o dedão e o indicador, como quem tem nojo, abaixa e dá uma batidinhas na terra, pra se retirar logo em seguida. Ah, e não podemos esquecer que depois disso, Thomaz ainda pega o regador pra deixar tudo beeeeeeeeeeeeeeem molhadinho.

Depois de se sujarem bastante, e de fazerem cocô, é hora de ir pra sala que a faxineira/babá deixou limpinha segundos atrás. Diz aqui pra mim, baixinho, não é um sonho? Não é pra entrar em êxtase?

Mas a culpa é toda minha. E é aqui que, na verdade, começa e história.

Um dia desses, nos idos de 2009, ainda sem nem sonhar com filhos, resolvi colocar uns vasos na varanda. Me deu uma loucura e decidi plantar, acho que deve ter sido depois de ver a fazendinha orgânica do Marcos Palmeira no GNT (o cara é gente boa, não frequenta o castelo de caras, é de esquerda, não faz o estilo global e, ainda por cima, é um pão. Não que eu queira me justificar por estar vendo este programa rsrsrs). Como trabalhava perto da CADEG, fui lá e comprei um monte de sementeiras, daquelas retangulares e com um palmo de altura. Do lado de casa comprei a terra e um monte de sementes e mudas. Espalhei tudo pela varanda e comecei o processo, logo eu que não consegui nem fazer brotar meu feijãozinho no algodão molhado do C.A na experiência de ciências.

Resolvi plantar temperos e ervas. Lá tinha, no início, hortelã, manjericão, manjericão roxo, salsinha, cebolinha, arruda e alecrim. Nasceu uma coisa lá que depois de alguma pesquisa e análises com amigos descobri que era salsão, também conhecido como aipo. Depois de algumas mortes e pulgões, parti pro desespero.

Comecei a comprar aqueles pacotinhos de sementes e jogar a esmo na terra: tomatinhos, pimentão, mostrada, coentro e etc. Bem, hoje o que sobreviveu aos dias sem regar e ao sol fervente ainda está lá pra contar a história: o alecrim, um boldo plantado por meu sogro, que tá virando um jequitibá, uma árvore da felicidade dada pela Anna e pelo Piu, um casal de grandes amigos, ela madrinha das crianças e ele meu gafanhoto de estimação, um jarrão de uma planta que não sei o nome levado pela minha mulher de contribuição, a cebolinha e, por fim, um jarro com espada de Ogum e Iansã, que julgo ser uma espécie de mandacaru do sudeste. Mesmo sem ver água durante dias elas seguem firmes desde o primeiro momento. Levando-se em consideração a quantidade de vasos plantados e a quantidade de plantas que morreram, sobraram uns cinco vasos só com terra, prontinhos para serem utilizados.

Não falei que a culpa era minha?

Essa necessidade doentia de querer plantar tava querendo dizer alguma coisa, que só percebi depois de 9 meses. Já viu, né amigo? Se olhou para um vaso e sentiu uma vontade de mexer na terra, preste atenção onde vai jogar suas sementes...


sábado, 5 de fevereiro de 2011

A visão masculina


Amigos, este é um blog sem frescuras ou preocupações com o politicamente correto. Aqui não mudo a música e continuo atirando o pau no gato e lendo Monteiro Lobato. Que problema tem se o gato não morre nem se machuca? Alguém conhece aqui um sujeito que faz terapia ou regressão para controlar uma vontade danada de sair por aí acertando gatos com um taco de Baseball, tudo culpa dos inocentes versos que ouvia para dormir? Alguém conhece um grupo de racistas que usa como cartilha "Caçadas de Pedrinho"? Então não me venham com esse blá blá blá pós-moderno que senão mando um boneco do fofão pra sua casa, junto com o disco amaldiçoado da Xuxa que toca versos satânicos quando roda ao contrário.

Este é o blog de um pai de gêmeos. E como diz muito bem o comandante do meu querido fluzão, Muricy Ramalho, isso aqui é trabalho! Este espaço vai ser utilizado pra contar esta saga diária de acompanhar sem tréguas Thomaz e Sophia, sempre com muito humor porque caso contrário não valeria a pena. É claro que surgirão também dicas de algumas coisas, principalmente de como convencer sua mulher a comprar produtos mais em conta. Não se esqueça, meu caro, é tudo ao quadrado! Felicidade, trabalho, gastos, stress, preocupação, risadas, tombos, doenças, enfim, vocês já podem imaginar.

E não adianta comprar livro pra aprender, meu amigo. Eles só falam de uma criança, nada serve pra nós. Ou então você pode até comprar um que está pra chegar lá em casa, "Criando filhos gêmeos", que vai ser mais um na prateleira. Amigo, bota a mão na consciência e pensa bem: tu acha que vai ter tempo pra ler isso? Esquece. Se você quer saber, meu banheiro tá virando biblioteca porque é somente na hora do aperto que dá pra ler umas duas páginas, quatro se for dor de barriga. Isso depois de negociar quem vai no banheiro. Se você quer ler alguma coisa, me escute: leia antes, durante a gravidez. Até porque tu não é bobo nem nada e não vai querer que sua esposa gaste seu único tempo livre do dia - aquele espaço milagroso de folga entre a hora que as crianças dormem e o momento em que sua mulher desmaia exausta pra dormir - lendo um livro. Vai por mim: devore os livros antes da gravidez.

As histórias são muitas como vocês podem supor, mas este é só um post inicial, algo pra dar o tom do que teremos aqui. No próximo contarei sobre o desespero/alegria de quando tudo começou: do exame de gravidez, passando pela notícia de que eram dois até contar para os amigos e familiares. Como as crianças têm hoje 1 ano, creio que já tenho alguma experiência acumulada, coisas que os outros pais levaram o dobro de tempo pra saber.

Chega do monopólio feminino. O pai contra-ataca!