quinta-feira, 30 de junho de 2011

Deprê animal

Só escutei quando ele disse "não aguento mais isso"...
Vai dizer que você achou que eu tava tristinho, choramingando pelos cantos, querendo arremessar algum objeto pela casa num dia de fúria? Quem me dera! E depois, pra quebrar alguma coisa lá em casa precisa primeiro disputar com as crianças...

Quem é pobre e tem gêmeos não dispõe de tempo pra isso, rapá! Quando você reflete sobre a depressão e seus benefícios espirituais e introspectivos, para melhor compreensão do seu eu interior e de suas questões existenciais, percebe que tem dois cocôs vazando, uma criança chorando, a panela queimando, o telefone tocando e, como se não bastasse tudo isso, as contas chegando.  O sujeito pra ficar em depressão precisa de tempo, compreende? Precisa ter alguém disposto a escutar suas lamúrias, de um ambiente bucólico, de uma tosse tuberculosa e de um livro do Nietzsche na cabeceira.

Tempo você não tem, o ambiente tá mais pra pós-Katrina do que pra quintal do Lord Byron. Seus amigos já estão rareando nas visitas porque perceberam que quando eles chegam é você que vira visita, a tosse não pode ser forte pra não lançar perdigotos nas crianças ou acordá-las e, por fim, deixa um livro na cabeceira lá de casa pra você ver o que acontece....

Tudo isso pra dizer que fomos ao Zoo aqui do Rio e fiquei um tanto decepcionado. Não pelas crianças, claro. Sophia dava beijo e tchau pra todos os animais antes de trocarmos de espécie e Thomaz teimava em querer entrar em todas as jaulas, provavelmente pra roubar a comida dos bichanos. O que me incomodou, profundamente, foi o olhar daqueles animais, melancólicos e deprimidos, todos com cara de "o quê eu fiz pra merecer isso?"

O leão, tadinho, deitado de barriga pra cima e dormindo, era acordado aos berros dos visitantes que queriam fazer uma filmagem ou foto. Tudo isso ao lado da placa "respeitem o sono dos animais".

O Elefante, que tenho certeza que deve ser ela, parecia aquela dona de cabaré de quinta, velha e gorda, amargurada e lembrando dos seus tempos de rainha do baixo meretrício. Quando me olhava parecia pedir socorro. E um cigarro.

Os pinguins trancados num quartinho com ar condicionado eram metralhados por flashes de pais ensandecidos que empurravam as crianças para o melhor close.

Os macacos comendo uma banana blasè.

O Tigre siberiano, imenso, parecia tão adaptado quanto eu a uma cadeira de bebê.

Enfim, ainda que um bom programa para as crianças parece péssimo pros animais.

E olha que estou longe, muito longe de ser membro do Greenpeace ou vegetariano, hein?




3 comentários:

  1. Como eu gosto deste blog! Sempre venho aqui e nunca me arrependo. Até para demonstrar certa indignação, você escreve e descreve com inteligencia, humor sagaz e sensibilidade. Eu amo esse blog! Vou espalhar por aí, OBEVEO. Bjo duplo nos filhos e abração nos pais.

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  2. Nunca mais vou conseguir ir num zoológico e não pensar nessa depressão animal...

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  3. É claro que só podem estar deprimidos!! Foram tirados de seu habitat natural para serem engaiolados e submetidos a uma vida mísera só para satisfazer os caprichos do homem, que não consegue respeitar nenhum tipo de vida, além da sua própria!!
    Abaixo os zoológicos!!!!!

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