sexta-feira, 15 de julho de 2011

a.G e d.G

Cumpádi, não me leve a mal mas, pra mim, o mundo pode ser dividido em dois: antes do Google e depois do Google. Essa parada de antes de Cristo ou depois de Cristo já não cola mais, me perdoem. Tudo deveria ser datado em a.G ou d.G ao invés de a.C ou d.C. Me diz, sinceramente, como alguém podia viver sem ele? Quando estava escrevendo minha dissertação de mestrado sempre me perguntava: “meus deuses do céu, como os antigos faziam pra ter acesso a todos estes documentos que eu estou usando, do mundo inteiro, de todos os tipos, sem levantar o rabo da cadeira, vendo o que todo mundo já escreveu sobre o tema num piscar de click"? 

A resposta é simples: não faziam. E nem por isso seus trabalhos eram piores, pelo contrário. Eles usavam tudo aquilo que estava à disposição para um intelectual de ponta, especialista em um tema específico. Logo, tudo que ele usava era tudo o que se podia saber sobre o assunto. Nesta lógica, o que eles deixavam de levantar não fazia a mínima diferença já que mais ninguém sabia da existência dessa ou daquela discussão que não foi levantada pelo trabalho. Isso pra dizer que toda realidade é construída a partir da quantidade de conhecimento que adquirimos ao longo da vida. E o Google veio f&&(%##@@@&**¨¨$#$%%uder com ela.

Os pais de hoje estão π π π π π. Ainda mais os casais metidos a modernosos e bestas. Conheço um que têm filhos gêmeos, o cara até tem um blog sobre isso, ele deve achar cult, e que são mais ou menos isso. Não chegam a gozar com o último lançamento do cinema iraniano, não tem em casa um pôster do astro de Bollywood ou mesmo sabem na ponta da língua todos os filmes do Bergman. Mas sempre foram contra a chupeta. Quando perceberam a burrada que tinham feito já era tarde.

 Eles gostam de peças cabeça para os filhos, principalmente se na programação estiver escrito “esta peça possui elementos simbólicos que vão estimular a percepção espacial dos seus filhos acerca do lugar em que se encontram no mundo, além de ampliar sua capacidade de discernimento entre os vários objetos cenográficos. No palco mensagens subliminares estimulam regiões do cérebro específicas que são fundamentais para a inteligência futura e, por fim, elementos mecânicos dispostos em diversos lugares desenvolvem a psicomotricidade e impulsionam a criatividade”. Falaí, tu não saía correndo agora e comprava ingresso pra todos os dias? Aí tu chega lá, cheio de orgulho por estar proporcionando este plus na vida de seus filhos, e dá de cara com a Galinha Pintadinha balançando num trapézio com um playback rolando atrás e umas linhas balançando uns trecos no cenário.  

Não se enganem: eles sabem o que nós queremos ouvir. Ah, e ninguém me tira da cabeça que o inventor da psicomotricidade foi o mesmo do Lego, nem adianta tentar me convencer do contrário. Tu chega na creche e tá lá, grandão: “aula de psicomotricidade”. Pode ver que tem uma pilha de Lego do lado.

Voltando ao Google. Desgramado. Tu bota lá “usos da chupeta”. 35 mil a favor e 37 mil contra. “Complemento (Nan)” 98 mil contra e 54 mil a favor. “Cortar a unha com eles acordados” 589 mil contra e 489 mil a favor. Em suma, o que era pra servir e ajudar só gera mais dúvidas. Ainda mais se você discordar da sua mulher. Aí babou tudo, fica uma guerra de link danada, cada um consultando seus especialistas e enviando textos das últimas pesquisas. E vô te dizer: só piora. O ideal, meu caro, é esquecer esta ferramenta na formação dos bacuris, a não ser é claro para consultas que não tragam nenhuma influência direta na forma de criação que você sempre pretendeu dar ao seu filho. Esquece o maldito e vai na intuição. Nada do que está lá pode servir. 

Têm mães que acham que o Mucilon é um veneno mortal, que os EUA usaram inclusive como arma química na guerra ao terror no Afeganistão (bota no Google pra tu ver). Mas já acham o danoninho inofensivo, o que outras mães tacham como uma contradição absurda porque todo mundo sabe que o danoninho tem ingredientes suspeitos e transgênicos, se não, como valeria por um bifinho? E na loucura de saber o que é bom e o quê não é, o que deve e o que não deve, deixamos de lado aquilo que criou e sustentou a humanidade até hoje: seu instinto. 

Nelson Rodrigues sempre nos alertou para a burrice contida em toda unanimidade. Deixe o Google pra pesquisar preço de fraldas e resolva suas questões sem consultar o oráculo. Ficou na dúvida? O Google só vai te atrasar e piorar sua situação. Vá testando, e não clicando. Uma hora tu acerta e esta trajetória vai ser muito mais importante pra você do que seu caminho de endereços no histórico do computador.

Se eu vou fazer isso? Sei lá! Provavelmente não.

 Mas que é uma ótima idéia é...

5 comentários:

  1. kkkkkkkkkkkkkkkkkkk como sempre o melhor!!!!!!! abç!!!!!!

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  2. Pelo titulo pensava que seria: Antes dos Gemeos, e depois dos Gemeos hehehe

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  3. Valeu, Ana!

    Anônimo, isso seria óbvio demais kkkk

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  4. Kra adorei teu blog...Te encontrei por um blog que seguimos em comum que te incluiu no top 10 (vamos ser mamãe e de gêmeos)E te adorei...rs...To seguindo...Ah e aproveita va no meu blog que ta rolando sorteio viu!Rs
    http://glauhesofia.blogspot.com/p/sorteio.html

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  5. Capelli. Adorei!
    Minha ultima "googlada" sobre assuntos maternais e infantis foi sobre parto normal. Vi imagens (malditas imagens!!) que até hj insistem em morar nas minhas memórias! Depois disso parei!

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