Minhas queridas e meus camaradas, não adianta. Pode pular 127 ondas no ano-novo segurando 13 palmas brancas e baforando uma vela azul na boca, pode fazer retiro no Tibet com o Lama da hora, pode jejuar durante 15 meses se alimentando só de luz, pode fazer promessa pra São Longuinho, pode ir a pé pra Meca, enfim, pode apelar pra tudo que você quiser, não adianta: seu filho vai fazer merda. Tinha uma amiga minha que sempre falava um negócio (como é mulher me livra da pecha de machista) quando queria dizer que algo era inexorável, que nada poderia deter aquela força cuspida das entranhas de um vulcão corporal. Dizia ela, preocupada com os calores da juventude de sua filha com então 16 anos: "não tem jeito: água morro abaixo, fogo morro acima e mulher quando quer transar, ninguém segura!" Falava isso porque sentia que a filha estava prestes a praticar o ato e, diante da resignação de que um dia isso aconteceria de qualquer jeito, ela estava conversando sobre o assunto ao invés de reprimir.
Vejam o que aconteceu com os padres. Na boa, aqui pra nós, se o cara tivesse convicção de verdade, se tivesse Jesus tatuado no coração, se se sentisse ungido pelas graças do altíssimo, se tivesse de fato escutado as trombetas dos Arcanjos na porta do Paraíso, se tivesse visto a Virgem que surgiu na sua janela após a empregada passar um limpa vidro lhe balbuciar algo, ele não precisaria ficar enclausurado. Porque cargas d'água alguém que é escolhido por Deus para fazer o bem tem a necessidade de ficar isolado na torre eclesiástica se as mazelas do mundo estão todas do lado de fora? É justamente por causa disso, dessa prisão das vontades, que eles acabam por aí dançando Monnwalker. Uma hora o corpo explode, a vontade inunda e o desejo transborda, não tem jeito. A bolha quando estoura vai pra tudo quanto é canto, praticamente uma teoria do caos onde sua ação não vale de nada. E aí, meu caro, perdeu, já era, baubau.
A proteção dedicada aos nossos filhos deve ter limites. Protegê-lo das mazelas reais que enfrentamos criará um ser humano indiferente e, pior, acrítico em relação a isso. Se ele não se dá conta disso, das amarras e opressões que nos rodeiam e cerceiam, perdemos um cérebro na luta contra o que nos oprime. Se você é aquela mãe que fantasia seu filho de Lifebuoy no Carnaval pra ficar tranquila, cuidado: nosso corpo não sobrevive sem uma infinidade de parasitas que nele habita. Os erros, as derrotas, os dissabores, desamores, descaminhos, vermes, micoses e bichos do pé serão depois nossa identidade, nossa história pra contar, quer dizer, a deles. (Eu, calçando 44 e andando descalço o dia inteiro, era o rei do bicho de pé, que dá uma coceirinha maravilhosa, e da larva migrans, vulgo bicho geográfico).Ou você é daquelas que se reúne com suas amigas pra contar suas boas ações na época da juventude, tomando um bom copo de leite???? Não me subestime mulherrr!
Dia desses tavam falando do novo Banco Imobiliário como obra do capeta. Que brincar de polícia e ladrão faz mal ao caráter, que isso, que aquilo. Não bastasse as censuras na música, parece que agora estão se alastrando para outros campos da vida social. Porra, na boa, passei uns dez anos brincando de polícia e ladrão e nem por isso virei o Beira-Mar de Vila Isabel, fala sério. Propaganda em jogo? Meus deus do céu, parece que a propaganda surgiu ontem e só existe no jogo. Acham que a criança vai jogar o dado e sair dizendo igual a um zumbi: "vou abrir uma conta no Itaú e comprar um Fiat". Estamos aí pra isso: pra mostrar os excessos, pra incentivar a independência intelectual, pra explicar como estas coisas funcionam, pra que não deixem se levar pelos outros, pra que tenham identidade própria, opinião própria, pra que percebam que o mundo está em movimento e que existem várias disputas em jogo.
E ainda assim, mesmo dando uma ideia, trocando papos, aconselhando, ele vai fazer merda. Coisas que você nunca acreditaria que seu filhotinho-gostosinho-denguinho da mamãe faria. Eu mesmo fiz coisas que minha mãe vai morrer sem saber, já que contar antes poderia abreviar sua passagem pelo planeta. Vocês também, não? Acredito que sempre estamos buscando um meio termo, algo entre a bolha e o libera geral, ambos, no meu entender, prejudiciais. E é nessa busca que ganhamos mais importância porque a partir deste dia, teremos que colocar em prática, efetivamente, tudo aquilo que estamos falando, sob o risco de parecermos farsantes diante de nossos rebentos. E aí, minha querida, todos verão a opressão do politicamente correto se revelar.
E que tristeza seria se elas não fizessem merda nenhuma. Deixaríamos de
rir muito e eles de aprenderem coisas fundamentais que só aprendemos
quando nos "desvirtuamos".
Ri alto!! E mãe judia que sou, terei que ler seu texto dia sim, dia também, para lembrar que NÃO ADIANTA colocar o MEU (olha a judia aí de novo) Daniel numa bolha porque vai dar uma merda maior ainda!!! Sábias palavras, amigo!!
ResponderExcluirÉ verdade! Parece que educamos seres sem total inteligência e reflexão. Vejo mães falando: "não, não meu filho não assiste galinha pintadinha, Deus que me livre de Patati Patata, jamais deixo meu filho assistir tv sozinho, pois dá uma sensação de abandono"
ResponderExcluirGente, o que acontece?..que falta de realidade na vida de algumas crianças.