quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Me despedindo pra poder voltar

Na boa, tem vezes que a coisa fica tão clara, tão clara, que nos negamos a acreditar. Eu mermo, pra minha desgraça, já cansei de errar questão múltipla escolha de prova por achar que não podia ser tão fácil assim. Imaginava "ah, esse examinador tá de sacanagem comigo, querendo me ferrar, jogou essa isca pra ver se eu mordo" e procurava qualquer coisa idiota nas outras respostas pra que justificasse meu "x" certeiro. A simplicidade ali, brilhando, chamando "veeeeem, me marca, me arremata, sou eu que te quero, enfia essa caneta em mim e me rabisca todinha" e você lá, olhando pra cima e pra baixo, "não é possível, eu não sou idiota, esse cara não sabe que sou inteligente demais pra cair numa armadilha dessa?". Bem, o final geral já sabe: tu marca a porra da resposta errada e, ao chegar em casa e conferir o gabarito, se rasga todo, dá com a cabeça na mesa e começa a se martirizar. E o pior de tudo é que não dá mais nem pra se jogar pela varanda, porque a tela, que era pras crianças, agora serve pra você.

Depois da última postagem fiquei imaginando muitas coisas, possibilidades possíveis diante de comentários tão sinceros e, principalmente, sem respostas. Era exatamente isso que eu queria que aparecesse, a infinidade de angústias e dúvidas que nos faz humanos e nos permite o erro. Depois de ler alguns livros sobre gravidez, quando as crianças ainda estavam nadando em placenta esplêndida, e avaliando a sua utilização após o romper da aurora tive certeza de que o que existe em todos eles as mulheres já carregam na veia, no sangue, desde que o mundo é mundo. Pra mim, ele serve muito mais como um guia do que não é aconselhável que se faça, o que não quer dizer que em casos extremos não deva ser feito. São orientações gerais, informações técnicas, vendidas hoje como algo super moderno e que amanhã, na próxima edição, eles mostrarão que estas técnicas já estão superadas. Na boa, livro para grávidas devia existir só um, com os seguintes itens no índice: doenças e sintomas, vacinações, amamentação e alimentação. Depois disso, páginas em branco para serem preenchidas por cada uma pois, a partir daí, não existe regra.

Bem, tá na hora de dar sentido aos dois parágrafos anteriores, desconexos mas complementares. O que ficou claro pra mim é a tensão da vida moderna e a maternidade/paternidade. E algum tempo atrás eu já escutava sussurros disso nos comentários e nos outros blogs, mas achava que não era uma vereda que deveria desbravar. Era a tal da resposta certa que eu teimava eu não marcar. Este que vos fala tem tesão na escrita, no detalhe, na minúcia, no relato e debate das ideias. Me amarro em fazer estas análises que juntam sociologia, antropologia, história, psicologia, conversa de elevador, de bar e bom humor. Me parece que este blog tomará um caminho diferente, pulará da infância para a crise pós moderna dos relacionamentos e sua interferência no contexto familiar. Mermão, que loucura, hein? Acho que já tenho um projeto pro doutorado rsrsr. 

Enfim, passarei a abordar temas adultos, neuroses, dilemas, contradições e devaneios, sem nunca perder o viés da relação destes temas conosco, pais e mães. Não quero um troço careta, tipo esta catequese que existe quando o assunto é maternidade/paternidade, com perguntas e respostas prontas. Parece que gravaram 30 programas e repetem eles há 50 anos (Eu já falei pra vocês que esta é minha tese pro Globo Repórter?). Vou por um caminho mais punk, mais fundo, dedo na ferida mesmo, porque acredito que é assim que crescemos, tanto emocionalmente quanto intelectualmente. É na oposição que se faz a síntese. É a rebelião dos pais, sim, isso mesmo, porque nós também somos assunto e merecemos mais do que este gugu-dadá que nos é oferecido como material de reflexão.

Quem quiser sugerir temas/debates pode me mandar um imeioul: cappellettico@gmail.com

Pra fechar, deixo aqui uma canção do Tom Zé, que define o que farei daqui por diante, ao quadrado:

Tô 
Tô bem de baixo prá poder subir
Tô bem de cima prá poder cair
Tô dividindo prá poder sobrar
Desperdiçando prá poder faltar
Devagarinho prá poder caber
Bem de leve prá não perdoar
Tô estudando prá saber ignorar
Eu tô aqui comendo para vomitar
Eu tô te explicando
Prá te confundir
Eu tô te confundindo
Prá te esclarecer
Tô iluminado
Prá poder cegar
Tô ficando cego
Prá poder guiar

Suavemente prá poder rasgar
Olho fechado prá te ver melhor
Com alegria prá poder chorar
Desesperado prá ter paciência
Carinhoso prá poder ferir
Lentamente prá não atrasar
Atrás da vida prá poder morrer
Eu tô me despedindo prá poder voltar











17 comentários:

  1. Quando li "dedo na ferida" logo me veio à mente estudar pra concursos x atenção para minha filha. Todos dizem que eu teno que fazer valer todo o dinheiro investido na porra da faculdade que resolvir fazer (Direito), mas esquecem que tenho um amor, um vício que é minha pequena,só quero estar perto dela, mas tenho que dar lucro ao invés de só tirar dinheiro do bolso. Ô que saco isso tudo, nem sei se o que falei faz sentido, mas enfim, tá falado.

    Um salzinho da ferida, ou melhor, abraço.

    Luciane

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    1. Sensacional!

      O sal dói mas depois cura.

      Tô maluco estudando pra passar no TRT e sei bem do que se trata rsrsrs

      Vou falar sobre isso no próximo, boa!

      abs!

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    2. Como vc consegue estudar pro TRT???
      Eu de-tes-to direito do trabalho, vara do trabalho, CLT e tudo mais.
      Vou tentar mesmo pra fórum estadual ou quem sabe pra juiz, afinal de contas ném é tãããooooo dificil passar né...hehehehe
      #mamãocomaçucar.

      abs

      Luciane

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  2. Posso falar... ??
    Posso né.. é livre.. !!!
    Amei seu ultimo post! E amei principalmente pq leio a minha vida dessa forma. Ver um homem enxergar isso é uma luz no fim desse túnel que nos colocaram (ou que nós mesmas nos colocamos todos os dias)
    Bato palma de pé para seus textos.. os mais leves e divertidos e tbm para os mais complexos (pq o que tem de complexidade nessa nossa vidinha ma-o-meno não dá para contar).
    Vou adorar acompanhar essa nova fase (pós terribles twos?)
    Enquanto isso to ali 'costurando um sutiã' pq ta f* essa vida de "dou conta de tudo e do mundo"
    Abraço grande na família

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    1. Beleza, Martha, vamo junto que vou botando água no feijão.!

      O mais maneiro é que a grande maioria das mães respondeu em uníssono: é foda! rsrsrs

      Ler o que vocês escrevem me faz ter tanta ideia de texto que chega a cansar...

      abs!

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  3. Descobri porque gosto de ler seus textos. Uma frase me chamou a atenção - "Este que vos fala tem tesão na escrita, no detalhe, na minúcia, no relato e debate das ideias. Me amarro em fazer estas análises que juntam sociologia, antropologia, história, psicologia, conversa de elevador, de bar e bom humor" Eu idem. Vai ser bacana acompanhar essa mudança. Aprovadissimo! Abs.

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    1. Fala, Gel!

      Ó, tô indicando seu livro pra quem quer engravidar e ter gêmeos, é a simpatia do momento rsrsrs

      abs!

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  4. Gostei desse post tambem e faço das palavras de Martha as minhas...e eu me identifico pra caramba por tmb ter resolvido fazer direito achando que o dinheiro fosse jorrar do ladrão...mas depois de formada descobri que o buraco é mais embaixo, e essa alma de concurseiros que nos toma, as vezes nos torna meio culpados...pois me vejo nesse mesmo dilema da Luciane...gastei horrores com a facul e agora optei por valorizar mais a maternidade do que o o diploma...cobrança da família inteira... Martha me empresta a agulha ae que essa porcaria de fogueira ta dando uma trabalheira dos inferno...

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    1. Mamy,

      Fica tranquila que vivo algo parecido e vou escrever sobre, pra ver se você fica mais confusa rssr

      abs!

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  5. Opa Cappelli! Feridas são muitas e dedos são 20, portanto mãos é pés a obra. Com certeza não vai faltar assunto e leitores. Quer ferida aberta da que vos fala? A vida pós maternidade/paternidade e a merda que as vezes é jogada no ventilador no relacionamento a dois? QUE DOIS??? E que não me venham com papo pseudo psicológico científico de "não se pode esquecer do papel de esposa e de si mesma, do lazer, do sexo, dos momentos a sós depois dos filhos" que me dá vontade de gritar: E FAZ COMO, CACETE? Tá aí, uma sugestãozinha básica. Repetitiva do tipo Globo Repórter (ou é sobre comida ou sobre bicho ou sobre viagem e variações sobre os temas), mas acho que ainda rola de abrirem pouco o coração a respeito. Beijos e boa nova jornada!

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    1. Tati,

      Tô doente aqui de rir, muito bom rsrsrsrsrsr

      Concordo absolutamente com tudo que você escreveu e não posso deixar de falar sobre isso. Ontem mesmo tava implorando 5 minutos de minha mulher antes dela capotar rsrsrsrsrs

      abs!

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    2. Pô Cappelli, tadinha, deixa ela dormir rsrsrsrsrs. Mas, sério, li tua resposta a um comentário do post anterior para uma menina de 25 anos sem filhos e acho que vc resumiu tudo: tem que ceder mesmo, abrir mão. O conceito de liberdade varia com o tempo, vai se transformando. Mas só entende isso quem para pra pensar. Beijos.

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  6. Nossa, a Tati escreveu justamente o que eu iria falar: quedê o bom relacionamento dos pais, especialmente quando se encontram em momentos delicados (filho não dorme - já perto dos dois anos, fase em que se espera dormir bem; dinheiro curto; pai estudando como um louco, sem tempo para ajudar mãe que trabalha fora e dentro; mãe puta da vida que está "sozinha" com a cria, largada na vida... mãe que não dá atenção ao pai; pai que não dá atenção à mãe; mãe e pai que brigam quando dão atenção um ao outro; mãe e pai que se amam e vivem intensamente essa fase doida que é ter filhos pequenos....).

    E engrosso o coro: nem me venha com essa de que mãe tem que estar linda e cheirosa e bem humorada e feliz.... pq é foda!!!!!!!!!!!! Mas estamos aí e se pretendermos aumentar a família (um dia, quem sabe), temos que encarar de frente, né? Não nos casamos à toa, não somos pais levianos, queremos o melhor para a nossa família... mas não é fácil.

    Adorei o seu texto anterior (deixei um comentário imenso agora), adoro o seu jeito de escrever, parabéns!

    Voltarei sempre, pq curto mto a tua honestidade!!!

    Beijo!

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  7. Dani,

    (filho não dorme - já perto dos dois anos, fase em que se espera dormir bem; dinheiro curto; pai estudando como um louco, sem tempo para ajudar mãe que trabalha fora e dentro; mãe puta da vida que está "sozinha" com a cria, largada na vida... mãe que não dá atenção ao pai; pai que não dá atenção à mãe; mãe e pai que brigam quando dão atenção um ao outro;

    Dani, se você continuar não vou ter o que escrever rsrs. Pelos comentários acho que este é o tema da vez.

    abs!

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  8. Dani, quase me joguei no PC e abracei você a distância. Filho não dorme, dinheiro curto, etcetcetc, vamos juntar os lenços?? E o mãe e pai que brigam quando dão atenção um ao outro? Eu e meu marido tiramos um sabático de DRs por três meses porque não dava mais pra conversar sem brigar. Tem pano pra manga, corpete, chapéu, luva e todos os itens de vestuário no assunto. Cappelli vai poder fazer a tese de pós-doutorado se quiser. E o pior, sem chegar a uma só conclusão. Mas a gente segue tricotando e tentando, né? Beijos e boa soerte!

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  9. Sabe se ainda tem vaga no sabático ? kkkkkkkkkkkkkkkkkkk

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  10. Tô querendo também, aliás se tiver um lugar onde eu possa me esconder e estudar, e ficar com a minha filha, e trabalhar, e dormir, e...., bem se vocês soubessem teriam dito né...hehehehe

    Luciane

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