terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Um causo do cumpádi


O Jênio já treinando pro grande ato final

O texto de hoje não tem nada a ver com um pai de gêmeos ou mesmo com as crianças. Não tem nenhuma relação com o objetivo deste blog. Não passa nem perto disso. Mas sabe como é, o cara é padrinho, meu deu um celular todo wiskin (é como meu afro-animal de estimação e também padrinho das crianças Jamaica chama os telefones com tela sensível ao toque. Ah, tem também o home titi, que é aquele som que vem por todos os lados. Esta história dos padrinhos conto mais tarde.) deu a banheira que as crianças usam até hoje e uma camisa show de bola da seleção do Peru. Além disso é um grande irmão que tenho, a família que se escolhe.

Trabalhando com direitos humanos, Alvitinho começou defendendo os camelôs de Icaraí. Ordenava aos guardas municipais bater só da cintura pra baixo (depois que ele viu Tropa se comoveu com a súplica do baiano na cena final) e não fazer nenhuma apreensão: era pra pegar e dar uma bicuda na banca porque a prefeitura não tinha depósito. Depois trocou a brisa da Boa Viagem pela Garoa paulista, onde hoje acelera a "la poderosa"* defendendo os direitos humanos dos companheiros e companheiras de toda a América Latina, de onde nos manda fotos maravilhosas de placas diversas (coisa linda, placas de ruas, de monumentos, de cardápios na rua rsrsrs) e nos atualiza com as melhores muambas dos hermanos. Abraçado com uma Lhama que ele trouxe de sua última viagem ao Chile, fitando a foto do Marcelo Freixo em tamanho real, ele lembrou deste causo que agora publico. É sensacional e, conhecendo ele, a gargalhada fica ao quadrado. Ôpa, tá vendo aí? Quem disse que não tem nada a ver com este blog?

Beijunda, animal!!!

Segue o texto...


Com a certeza que este blog, e seu editor, é heterodoxo o suficiente para permitir que seus leitores e entusiastas possam falar da visão dos homens com seus filhos, sobrinhas, primos menores etc. escrevo sobre uma história que vivi com meu pai. Ouvi este causo pela primeira vez da sua boca e divido com vocês.

A história tem seu inicio no longínquo natal de 1986. Neste ano Papai Noel recompensou todas as minha boas ações com uma bicicleta azul. Como estreava na atividade, o “camelinho” veio devidamente paramentado com duas ridículas rodinhas. Não me conformava com aquele fato vexatório, visto que toda bike de um moleque de 6 anos (incompletos) deveria ter apenas duas rodas. 

Como gozava das maravilhosas férias de verão, podia dedicar horas e mais horas ao ciclismo infantil. Resultado disto foi que, em menos de duas semanas, já não precisava daquele aparato odioso. Ato continuo da retirada das rodinhas, me desabalei pelas ruas mais movimentadas como se a cidade (Petrópolis) pertencesse só a mim.

Esgotado de tanto sobe e desce nas ladeiras imperiais, me encontrava prostrado nas cercanias do Hotel Quitandinha (distante uns 8 quilômetros do meu ponto de partida),  quando de repente, fui abordado por minha mãe que vinha de carona em um taxi fiat 147. Como ela me achou? Esta pergunta ainda permanece na penumbra da minha ignorância. Foi o maior susto e medo da minha curta existência. Depois de alguns tapas e uma prolongada lição de moral, a sentença foi proferida: pelo resto das férias eu e minha bicicleta não poderíamos nos afastar um milímetro da rua vizinha a minha casa.

Pensem agora na rua mais chata do mundo. Pouco mais de 50 metros de asfalto plano e sem graça. Esta era a minha triste realidade. Depois de dois dias de pasmaceira completa, decidi que estava em minhas mãos a responsabilidade de dar mais emoção para aquelas tardes vazias. 

Inspirado pelas provas de MotoCross que via o tempo todo na TV Manchete, decidi que eu fabricaria uma rampa! Já tinha um sorriso no canto da boca pensando nas horas e horas de saltos radicais! Estava decidido! Não precisava de muita coisa: uma boa tábua de madeira, minha bicicleta e algo que ajudasse a criar um ângulo da rampa com a rua.

A solução para estes pequenos contratempos estava localizada a apenas alguns metros de mim: perto havia uma casa que passava por uma reforma do tipo “obra de igreja”. Desde de um período imemoriável aquele casebre estava cooperando com os casos de dengue na cidade. Perfeito! Dá para pular o muro com facilidade e lá dentro eu consigo tudo que preciso. Dito e feito,  em um salto só já estava dentro da maltratada cachanga,  vasculhando por tijolos ou similares.

Quando já me preparava para voltar a rua com o pesado, vi alguns cabos pendurados perto da porta principal. Era irresistível examinar aquele emaranhado de mais perto.

Depois de uns 2 ou 3 minutos acordo completamente assustado. O cheiro de carne queimada que vinha dos meus braços só poderiam ser conseqüência de um choque relativamente sério. Cheguei na porta da minha casa soluçando e com muito medo. O cheiro estranho e as mexas de cabelo que saiam nas minhas mãos certamente não poderiam ser boa noticia.

O primeiro susto foi do meu pai. Minha mãe foi a que me levou para os hospital e encomendou o eletro encefalograma. Seu Milton, ajudou a tirar o que restava das sobrancelhas e me levou para raspar o que restava dos cabelos.

Hoje tento prolonga a sentença definitiva de dois processos perdidos que meu anjo da guarda move contra mim por trabalhos forçados. 

* "La Poderosa" era o nome da motocicleta que o Che percorreu a América Latina. Sabe como é, historiador acha que todo mundo deveria saber disso rsrsrs. 

** Queria aqui dar os parabéns ao Alvitinho. Este choque deixou sequelas e uma delas foi uma dislexia grave na escrita. Não precisei consertar praticamente nada!

*** Este causo explica sua reprovação no teste do pezinho. Isso que dá aprovação automática.

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