quarta-feira, 7 de março de 2012

Fra x Flu

Hoje vamos falar de um assunto extremamente delicado, de importância fundamental na vida da família e, quiçá, fator determinante nas relações futuras entre um pai e seus filhos: a escolha do seu time de coração. Muita gente fala que o importante é ter saúde, ser bem sucedido, amar ao próximo ou qualquer outra coisa que derive dos dez mandamentos. Pra mim, sinceramente, na boa, cá entre nós, se eles não torcerem pro mesmo time que eu não vale de nada.

Aí você fala: "Ih, ah lá, Cappelli tá mostrando seu lado fascista e ditatorial". Nossa, você é muito inteligente! Parabéns, eis aqui um tricolor fanático. Para um pai que gosta de futebol, o maior castigo do mundo, pior que viver com um Oxiúros até o suspiro final, é não poder torcer ao lado do seu filho, não ter o prazer de levá-lo ao estádio e de vibrar e chorar com as vitórias e derrotas. Eu já falei pra minha querida Giullianna que serei infeliz  o resto da vida se o Thomaz não for Fluminense. A Sophia pode ser até Bangu. Pronto: agora pode acrescentar ao fascista e ditatorial o termo machista. Vamos ver como vai ficar até o final do texto.

Meu querido sogro, gente boa toda vida, embaixador do Rio de Janeiro em Alagoas, fez a árvore genealógica da sua família com urubus representando cada um. São flamenguistas, todos eles, sem exceção. Não é a toa que todos os seus seis filhos são flamenguistas, uns mais doentes, outros menos mas, enfim, fazem parte da mulambada. Ele fez até um Power Point sobre o FRAmengo que leva uma semana pra você ver todos os slides. Tem até uma cerimônia pra hastear um bandeirão do FRA num mastro gigante na casa dele todo domingo, virou até atração turística. Já minha distinta e aristocrática família tem origem italiana, como denuncia meu nome, e desde o nascimento todos estamos sobre o manto tricolor. Minha mãe, acreditem se quiser, ia nos jogos conosco e não hora que a torcida entoava o canto que terminava com um estrondoso "VAI TOMÁ NO CÚ" ela me olhava de rabo de olho e cantava "VAI COMER ANGÚ". Íamos todos aos jogos, família unida, menos minha irmã ovelha negra que dizia que era Flamengo só pra afirmar sua identidade juvenil de contestadora.

No gol de Barriga do Renato Gaúcho em 1995, eu estava lá no Maraca. Assim que a bola estufou as redes eu me joguei das cadeiras pra extinta geral. Perdi meus chinelos e joguei minha camisa fora, enlouquecido. Voltei gritando sozinho pelas ruas só de bermuda, rouco, alucinado. Acho que ficaram com medo de me bater achando que era um maluco porque caminhei uns 30 minutos zoando todos os flamenguistas que encontrava pela frente. Minha singela esposa, pra não ficar atrás, já correu na direção da Mancha Verde pra tirar satisfação e quase agrediu um PM no meio da Torcida Jovem, porque ele esbarrou no meu amigo que mandei pra tomar conta dela. Lugar preferido dela no maraca? A chamada faixa de gaza: o corredor que fica entre a Raça e a Jovem que, jogo sim, jogo sim, saem na porrada.

Enfim, imaginem o problema. Meu argumento contra qualquer tentativa de meu sogro de assediar as crianças é inapelável: deixe-me fazer meu trabalho, do mesmo jeito que você fez o seu. Não me prive da felicidade que você sente vendo todos os seus filhos vestidos com este pano de chão. Caso contrário, nunca mais venho te visitar e ainda falo para as crianças que "vovô foi morar com papai do céu" e pronto, assunto encerrado. Sim, meus caros, o maior perigo é o avô, sempre. Na maioria dos casos são eles que levam nossos filhos pro lado negro da força. Tem também aquele tio, que deu pra eles camisas do Fra que, não sei como, sumiram lá de casa. Troço estranho...

Meu afilhado virou tricolor e eu não achei bom. Seu pai é Flamenguista e ficou muito triste com a escolha, acho que isso não se faz. Porra, mas quem mandou ir morar em laranjeiras? A mulher de outro amigo, tricolor também, virou pra ele e falou "você prefere escolher o nome ou o time do nosso filho"? Só uma mulher pode fazer uma pergunta dessa. Pode se chamar até Maicoul Francisco Craytton, dane-se, vai ganhar um apelido rápido, mas tricolor é pra vida toda.

Meus amigos, em sua maioria flamenguistas, compreendem isso. Sabem muito bem que não podem e não devem tentar falar gracinhas sobre o Fra lá em casa ou em qualquer outro lugar, sob o risco de até cortar relação, ou pior, esperar eles procriarem e infernizar a vida do moleque até ele virar tricolor. Eles sabem disso, tem medo e, além do mais, sabem o que é gritar gol pulando agarrado ao seu filho, pois fizeram  isso com seus pais. Time não se escolhe, a não ser que pra você o futebol seja apenas onze homens correndo atrás de uma bola.
O quê? Você acha que escolheu o seu ???

6 comentários:

  1. hahaha Meu marido fala o seguinte: o Davi pode até deixar pra escolher o sexo depois dos 15 anos, mas o time não tem o que escolher. É Fluminense e ai de quem resolver influenciar o contrário. :-)

    bj

    ResponderExcluir
  2. kkkkk muito bom!
    lá em casa não temos esse problema, eu não torço pra ninguém e o marido pro "vascão"...
    até mais! escreva mais! :)

    ResponderExcluir
  3. kkkkkkkkkkk mt bom seu texto. Eu concordo contigo, a maior tristeza para um pai é ver seu filho torcer para outro time. Eu engano o meu até hj, que é flamenguista roxo, e não sabe que torço pro Flu. Teve um episódio final da taça guanabara em 2008, Fla e botafogo, ele me fez uma surpresa, comprou ingressos para esta final e me levou, tudo de surpresa mesmo, e eu não conseguia decepcioná-lo, me colocou na arquibancada do Flamengo, de onde ele assiste ao jogo a uns 40 anos, do lado da charanga no maraca. foi difícil eu quase comemorei gol do botafogo no 1º tempo, quase, meu irmão me deu um coque na hora, e nesse caso melhor apanhar do irmão do que da torcida.Enfim, o flamengo foi campeão, papai chorava como criança e me falava olha essa torcida: uma catarse!!!! Enfim eu não contarei aquele pobre homem que não torço para o time dele, apenas digo que não gosto de ir ao jogo para não cair mais em pegadinha.

    ResponderExcluir
  4. É Cappelli, concordo com você, apesar de não gostar de futebol, também acho que para vocês homens que amam futebol, a melhor e mais emocionante situação dessa vida, deve ser poder compartilhar com o filho o grito de gol do time querido...

    abração!

    ResponderExcluir
  5. Olá,
    Queria convidar vc pra participar do sorteio de um livro, apesar da capa estar escrito mãe, é bem bacana pai tbm ler!!!
    muito bom
    passa lá se sentir vontade, acho que a leitura vale a pena
    www.sublimeamordemae.blogspot.com

    ResponderExcluir
  6. Ainda bem que não tive problemas, tanto eu quanto o pai somos flamenguistas, logo minha cria não poderia torcer pra outro time e sempre que posso e o Pedrinho não tá de castigo vamos aos jogos do Fla, não gosto de viver perigosamente como a Giulli então ficamos na Urubuzada. E se eu fosse vc, só pra sua senhora não subir tanto nas tamancas deixaria a pequena Sophia torcer pro Mengão. Bjs na família

    ResponderExcluir