sábado, 19 de fevereiro de 2011

Bem, amigos!

Vamo que vamo. Passada a hora do susto surge a necessidade de se contar aos amigos e familiares a existência dos dois bacuris. Os ditames da prudência aconselham aos pais que só informem aos outros da gestação após completados três meses de desenvolvimento, já que até este período existe o risco de, na linguagem popular, o bebê não vingar. Em nosso caso então, de gravidez gemelar, a prudência deveria ser maior ainda, já que o risco era ao quadrado. Teve até uma suspeita de descolamento de placenta que fez minha mulher ficar deitada um mês, com medo até de ir ao banheiro e espirrar, mas até hoje acho que foi viagem da médica.

Mas aí, amigo, cá entre nós, segurar uma notícia dessas é a mesma coisa que entrar em um elevador lotado e prender aquele seu melhor peido silencioso: tu sabe que não é certo, mas ver a cara das pessoas depois disso não tem preço (alô Mastercard!). Imagina você encontrar sua mãe, seus irmãos, seus amigos do peito, com sua mulher do lado prenha de dois, e não falar nada. É traição. Além do mais, depois de uma notícia dessas, sua cara nunca vai ser a mesma, pra melhor ou pra pior, e quem te conhece matará a charada rapidamente.

Comecei então pela família. Ainda atordoado com um mundo inimaginável que estava me aguardando daqui a nove meses, resolvi procurar no conforto dos laços sanguíneos palavras que me trouxessem um alento, alguém que me acalmasse, que tecesse comentários otimistas a respeito do futuro e que me convencesse de que a batalha seria dura mas feliz. saquei o telefone da base e liguei para minha querida irmã Creuza, a governanta dos Cappelli, na certeza de que encontraria ali o refúgio para meu desespero. Segue o diálogo:

- Creeeeeeeeeeeeeeeeeeeeuza (riso desesperado)
- O quê foi, Creuzo?
- Creeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeuza
- Que foi, garoto, fala logo!
- A Giulli tá grávida!
- Como assim?
- Tá grááááááávida
- Creuzo, vai ser pai...
- De gêmeos, Creuza, de G-Ê-M-E-O-S
(pausa. Era aqui que eu esperava as plavras que disse acima)
- Que loucuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuura...
- Socorro, Creuza...
- Que loucuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuura...
- Vou me jogar aqui de casa....
- Que loucuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuura...

A conversa continuou e aí percebi que só estranhos podem ajudar neste momento. Ninguém do seu círculo de amizades ou familiar está pronto pra receber uma notícia dessa, ninguém sabe o que te dizer, se parabéns ou meus pêsames. As ligações foram se sucedendo e cada vez tinha mais certeza disso. Meu querido irmão animal fazia festa pelo telefone e repetia: "Calma, rapá, vamo junto, é guerra!" Conta pra mim: vocês conhecem alguém que vai pra guerra tranquilo??? Tudo bem, ele tentou. 

Mais um número, desta vez para meu pai postiço, que eu chamo de filho: "Filho, a Giulli tá grávida de gêmeos!" E ele que também me chama de filho, parecendo uma preta-velha daquelas bem gordas e quituteiras, respondeu: Fiiiilho, ê, ê! (e soltou uma risadinha) Dois, filho! Noooooossa! Só faltou o "suncê mizifio vai tê que reforçá o trabalhadô pá ganhá bastante bango*". Depois, direto do Nirvana em que habita, tentou me consolar falando que se os deuses me mandaram dois era porque eu tinha capacidade de cuidar deles bem, e que o universo iria conspirar a meu favor para que tudo desse certo. "Filho, se o universo lhe concedeu esta graça é porque irá lhe ajudar no seu sustento". Sei não, tô achando que o que ele chama de universo eu chamo de bolsa-família.

A mama então, cansada de acreditar nas mentiras que conto com espetacular veracidade e nos mínimos detalhes, demorou alguns minutos pra acreditar, mas mesmo assim fez uma festa tímida. Só da Creuza já anunciei umas três datas de casamento com meu cunhado cabeção. Eles só souberam depois que começaram a receber ligações de amigos próximos reclamando que não tinham sido avisados rsrs. Acho que ela só ia acreditar de fato depois de ver um exame nas mãos.

Restava avisar aos amigos. Resolvi então promover um encontro na minha casa, nada de anormal tendo em vista que sempre nos reuníamos lá. Todos presentes, começo o meu discurso. Embroma pra lá, enrola pra cá, faço uma gracinha e anuncio que ela está grávida. E antes que pudessem esboçar qualquer reação, completo: DE GÊMEOS!!! E aí, meu camarada, foi um trelelê geral. O piu, meu gafanhoto de estimação, parecia comemorar o ano-novo, gritando e abraçando a todos indiscriminadamente, como se estivesse na praia. Só faltou a palma branca. Mari, Gabi e Anna, futuras madrinhas, pareciam aqueles três macaquinhos: uma colocou a mão nos olhos, a outra na boca e a última nos ouvidos, estateladas com o anunciado. Vânia, minha prima artista, pela primeira vez desde que eu a conheço, bateu seu recorde e ficou sem falar durante 4 segundos, procurando com os olhos ao redor o que devia sentir.

A namorada de um amigo meu, tadinha, chorava igual final de filme em que o mocinho morre. Renatinho, que eu chamo carinhosamente de Omulu de varginha, um mix entre orixás e ETs, do jeito que estava ficou, apatetado na cadeira de balanço do falecido vô Didi que compõe nossa sala. Com um sorriso meia boca, repetia: "gente, como assim? Como assim?" Jamaica, meu afro-animal de estimação, esticou a beiça e arregalou os olhos: "manero, mermão, manero". Eu tenho isso filmado, vou ver se coloco aqui pra vocês verem. No vídeo, mesmo sem conhecer ninguém, duvido que vocês não reconheçam estes artistas.

Aos demais, dava a notícia em duas etapas. Primeiro dizia que ia ser pai, e aproveitava os parabéns e felicidades que se seguiam. Após o alvoroço, completava: de gêmeos. É impressionante como o semblante da pessoa muda e passa a te fintar com um ar de pena que dá dó rsrs. Chega a dar pra ver aquele balãozinho na cabeça do cidadão: "tá fudido! Este se estrepou!". Do parabéns a um constrangido boa sorte era questão de segundos rsrsrs. Omar, um amigo meu, sempre repetia que quando estava com a filha dele ficava pensando: "que sorte eu tenho, podiam ser dois" rsrs. Igual a um cara que encontramos no shopping com cara de acabado, com a mulher e uma filha pequena. Sabe como é, um casal de gêmeos torna todos do bairro e demais desconhecidos em seus amigos de infância, íntimos como nunca. A mulher disse que a filha tinha dado uma canseira nele. Depois que ele me viu chegou a revigorar, certamente pensou: "porra, podia ser bem pior" rsrs. Virei exemplo do ditado "nada está tão ruim que não possa piorar".

Todo mundo avisado. Agora era só esperar os presentes. Ao quadrado, claro.

*Aos que não são macumbeiros, bango significa dinheiro na língua dos Preto-Véio.

Um comentário:

  1. po, foi um dia inesquecível....era aniversário da Giully e vc já queria guardar as velas de 3 e 1 para economizar...hahahahah

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